RESPM-JAN_FEV 2016
JANEIRO/FEVEREIRODE 2016| REVISTADAESPM 51 tria brasileira. Perdemos quase uma década de integração internacional com as cadeias de valor. É por isso que o Brasil teve uma atitude defensiva e pouco disposta a trabalhar com mais intensidade sua integração econômi- ca. Faltava-nos competitividade intrín- seca, que é gerada a partir da paridade correta do câmbio. Sem isso, os inves- timentos em inovação, tecnologia e internacionalização são reduzidos, porque o empresário não consegue ter lucro. E, sem taxa de retorno, ninguém faz investimento. Infelizmente, essa sobrevalorização cambial foi longa e aguda. Agora, o Brasil começa a fazer o ajuste cambial e das contas externas, que já estava entrando emummomen- to crítico, com US$ 100 bilhões de de- ficit em conta-corrente, na balança de manufaturados. Como pode um país com a base industrial que tem o Brasil apresentar um deficit desse tamanho na balança de comércio exterior de manufaturados? Isso não existia até 2006. Criou-se de lá para cá. Revista da ESPM — O senhor vê alguma saída para esse dilema a não ser a efetiva inclusão do Brasil nos sis- temas de comércio internacional? Fonseca —Temosde fazerumprocesso rápido de recuperação, a começar por manter um câmbio mais competitivo e ter menos intervenções do Banco Central no mercado. É preciso deixar, de fato, a flutuação do câmbio indicar a paridade da economia e impedir que haja manipulação dessa taxa no mer- cado derivativo. Estamos retornando a uma situação que permite à economia brasileiraenxergar naexportaçãouma atividade lucrativa e desejável. Revista da ESPM —Mas essa abertura para o exterior obriga a indústria a inves- tir em inovação para ter vantagens com- petitivas. O senhor nota essemovimento? Fonseca — A partir de julho de 2015, quando a taxa de câmbio atingiu o patamar de R$ 4 por dólar, muitas empresas começaram a nos procurar para montar um plano estratégico de exportação, com o objetivo de retornar ao mercado internacional. Estão preocupadas em entender quem são seus concorrentes, que preços praticam, quais barreiras tarifárias existem, que mercados são mais atrativos... A indústria está retomando essa tarefa de buscar o mercado externo com profissionalis- mo. Até porque, a tendência é que o Real se desvalorize ainda mais com o aumento da taxa de juros dos Estados Unidos e da própria inflação brasilei- ra, que continua um pouco gravosa. Isso tudo faz comque a taxa caminhe para algo em torno de R$ 4,50 a R$ 5 — o que cria uma expectativa deme- lhor lucratividade para a exportação. Tem muita gente pensando nisso, porque a necessidade de exportar está se tornando uma estratégia im- portante para as empresas. Mas esse caminho passa, necessariamente, pela melhoria da qualidade dos pro- dutos e atualização da tecnologia. Revista da ESPM — E esse é um mo- vimento que só tem sentido se caminhar em conjunto com a real inclusão do Bra- sil nas cadeias globais de valor. Certo? Fonseca — Sim. Mas o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) está cons- ciente desse cenário. O ministro Armando Monteiro Neto já iniciou negociações com México, União Europeia e Mercosul. Um acordo de barreiras não tarifárias e especifica- ções técnicas com os Estados Unidos também está em andamento, além de um acordo de parceria econômica em discussão com o Japão. Estamos acordando tardiamente para fazer negociações bilaterais e regionais, que poderiam ter sido feitas há uma década, se não tivesse tanta ideolo- gia e tanta falta de visão estratégica do governo em impedir a competiti- vidade das empresas e a integração competitiva do Brasil no mundo. Revista da ESPM — Em anúncio recente, a Fiesp divulgou seu apoio ao processo de abertura do Brasil ao exterior. Que papel a entidade poderia desempenhar nessa abertura? RobertoGiannetti daFonseca, presidentedaKaduna: ”Umperíodo de recessãoéo intervaloentredois momentosdecrescimentoeconômico” E S P E C I A L I N O VA Ç Ã O
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