RESPM-JAN_FEV 2016
JANEIRO/FEVEREIRODE 2016| REVISTADAESPM 53 o empresário topa fazer uma cirur- gia, que envolve redução de custos, reestruturação do negócio, troca de maquinário e melhoria de eficiência. Na média, os brasileiros são corajo- sos e sabem— até por uma questão de sobrevivência — que vão ter de fazer um certo sacrifício e permanecer um tempo em recuperação para restabe- lecer a competitividade da empresa. Revista da ESPM — O Brasil tem uma política imigratória restritiva que difi- culta e impede a vinda de especialistas para trabalhar no país, apesar da falta generalizada de mão de obra qualifica- da. Como o senhor avalia essa situação? Fonseca — Essa carência de mão de obra especializada está relacionada à baixa qualidade de nosso ensino técnico e universitário. Temos al- gumas ilhas de excelência, mas é pouco para a dimensão econômica do Brasil. Aqui, falta desde técnico de chão de fábrica até o Ph.D. na área administrativa. Quando a Embraer surgiu em São José dos Campos, o Brasil também não possuía mão de obra especializada na indústria ae- ronáutica. Então, ela passou quatro anos investindo na formação do seu quadro de profissionais e também de seus fornecedores. Essa visão sistê- mica e abrangente de toda a cadeia produtiva é um trabalho de extrema relevância para a competitividade de determinado setor, mas ainda é pouco praticado no Brasil. Revista da ESPM — Qual é o papel da inovação para tornar a indústria brasileira mais competitiva? Fonseca — Para competir no exterior, temos de estar permanentemente identificando novas tecnologias e oportunidades em todos os aspec- tos do negócio, visando aprimorar desde a embalagem e a qualidade do produto até o marketing. Mas poucas empresas no Brasil têmdedicado tra- balho e capital para isso. Revista da ESPM — Até porque, em períodos de crise, o primeiro setor a so- frer com os cortes é o de P&D. Um cami- nho para suprir essa necessidade de ino- vação seria a ampliação do intercâmbio entre a indústria e a universidade? Fonseca — No Brasil, usamos pouco esse recurso. Deveria existir uma integração maior entre a academia e a indústria, que poderia financiar inúmeros projetos acadêmicos e pesquisas aplicadas à implantação de melhores práticas e soluções para a competitividade industrial. Hoje, as poucas iniciativas são pontuais e descontinuadas. Não existe uma relação de médio e longo prazos. Do lado da academia, o problema é a falta de pesquisas acadêmicas que resultem em ummaior efeito prático para as indústrias. Não adianta fazer pesquisas teóricas e utópicas que não tenham aplicação na indústria. Para esse intercâmbio acontecer de fato, precisamos alinhar os interes- ses da indústria com os da academia. Revista da ESPM — Por outro lado, a indústria brasileira tem sido acusada de ser muito lenta na introdução de tec- nologias já disponíveis. O que poderia ser feito para corrigir o problema? Fonseca — Como temos um baixo coeficiente de importação — porque a importação no Brasil ainda é muito complexa, burocrática e de baixo dinamismo —, a indústria nacional enfrenta pouca concorrência com os importados, o que faz com que seus players se acomodem do ponto de vis- ta tecnológico. O produtor nacional não se sente pressionado a investir na melhoria do seu produto. A existência de cartéis, oligopólios e reservas de mercado inibem qualquer investi- mento em inovação e tecnologia, por- que geram uma proteção excessiva que limita a necessidade de produtos com mais qualidade. Logo, é preciso estimular a concorrência no país, porque quanto maior ela for, mais inovação teremos. Daí a importância dos acordos regionais e da integração do país às cadeias produtivas. Revista da ESPM — Levando em conta tudo que foi dito, quais os gran- des fatores que dificultam a inovação no Brasil e o que poderia ser feito para reverter essa situação no curto prazo? Fonseca — O Brasil precisa ter uma concorrência legítima e leal numa pa- ridade de câmbio correta, com baixas tarifas para fazer com que o impor- tado chegue a um preço acessível ao consumidor e desafie oprodutor brasi- leiro a ser igual ou melhor. Outro pon- to é respeitar a propriedade intelec- tual, que é o resultado do trabalho do inventor. O governo tem de criar um ambiente de negócios — seja pelo lado tributário, seja pelo lado normativo — que estimule a inovação em tecno- logia. O país precisa apresentar regras previsíveis, claras e permanentes, que tornematrativos os investimentos em inovação e tecnologia. É um grande desafio, mas estou otimista, porque o dinamismo do nosso setor privado é maior do que a crise econômica que estamos atravessando! E S P E C I A L I N O VA Ç Ã O
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