RESPM-JAN_FEV 2016
REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 88 EMPREGO AGeraçãoZeaconstrução de umanovaponte entre odiplomaeoemprego Para enfrentar a crise, é preciso pensar a lógica do trabalho de forma diferente e investir emcomprometimento naquilo que se faz, a partir do conhecimento que se adquiriu na escola. Mas, hoje, qual é — ou deveria ser — o papel da educação no aumento da competitividade das empresas e das nações? Por Leonardo Trevisan O vínculo entre educação e competitividade estáconsolidadonomundo todo.Ótimo.No Brasil,desdeaaberturacomercialdocomeço dos anos de 1990, é quase consenso que o avanço educacional está relacionado coma posição — e o “papel” — que o país ocupa nomundo. Faltava, porém, a prática efetiva dessa realidade. Enquanto funcionou bem o boom de consumo das commodities brasileiras, encerrado em meados de 2011, foi possível esconder a relevância entre educar e competir para enfrentar a con- corrência. No Brasil ou nomundo. Agora, no rescaldo da crise global, está bemmais difícil fugir deste vínculo. Océlebre “o que fazer?” no pós-crise é o que interessa. Principalmente em relação à chamada Geração Z, os nascidos no fim dos anos de 1990, e que chegam à uni- versidade depois de bem instalados os perversos efeitos da crise internacional iniciada em setembro de 2008. É verdade, também, que esta perspectiva de a educa- ção ajudar a competitividade complementa a outra “fun- ção” do processo educacional, bemclássica, que é tanto a de gerar oportunidades iguais quanto a de acelerar a distribuição de renda. Nesse ponto, o país avançou. Em especial, no ensino superior. A Síntese dos Indicadores Sociais 2014 (SIS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a participação dos 20% mais pobres no ensino superior público subiu de 1,7% para 7,2% entre 2004 e 2013. No ensino privado essa parcela tambémdisparou de 1,3% para 3,7%, namesma comparação temporal. Esse dado precisa ser bem observado: dos quase dez milhões dematrículas no ensino superior brasileiro em 2014, poucomais de ummilhão é do ensino público. Em outras palavras, o salto quantitativo espetacular dos mais pobres no ensino superior ocorreuna rede privada. Aliás,osnúmerosdoSIS2014oferecemoutrapercepção essencial: a proporção dos 20%mais ricos matriculados nas universidades recuou de 55% para 38,8% entre 2004 e 2013 no ensino público. E recuou tambémnas institui- ções privadas: de 68,9%do total dasmatrículas para 43% entre os mesmos 2004 e 2013. Ou seja, não foi apenas a parcelamais pobre da populaçãobrasileira que alcançou mais espaço no ensino superior. Como o recuo da parti- cipação dosmais ricos indica, fatias da classemédia, em especial damédia baixa (e não só dosmais pobres), ocu- paramespaços crescentes na universidade brasileira. Muita commodity e pouca automação Essasconquistaseducacionais,noentanto,nãoforamsufi- cientesparaequacionarograveproblemadoperfildaparti- cipaçãodaeconomiabrasileiranocontexto internacional. Quandoo boom doconsumodascommoditiesdeclinou, o dramaessencialdaeconomianacionalapareceuporinteiro. Aparticipação doBrasil nas cadeias globais de agregação de valor recuoumuito, mesmo nos anos de bonança eco- nômica da primeira década deste século. Basta observar a queda da indústria na composição do Produto Interno Bruto (PIB): entre 2004 e 2014, a participaçãoda indústria noPIBrecuoude19,2%para13,3%,segundodadosdoIBGE.
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