RESPM-JAN_FEV 2016

JANEIRO/FEVEREIRODE 2016| REVISTADAESPM 91 legal. No Brasil, a Lei de Inovação, de 2004, até permite parcerias comempresas nas universidades para pesqui- sas. Porém, a regulamentação dessa legislação, de 2013, a que define a carreira docente, limita essa dedicação a 120 horas semestrais, cerca de 12 dias de trabalho de oito horas. Na prática, com tão pouco tempo as parcerias empresas-universidades não avançam. Há outras diferenças fundamentais entre os dois paí- ses. O professor americano pode ser dono de sua própria empresa, embora trabalheno laboratóriodauniversidade. Obrasileironãotemessapossibilidade.Osdoisprofessores contamcomapoio de agências de inovação para o registo de patentes. Adiferença é que noBrasil o registro de uma patente pode levar de sete a oito anos. Nos Estados Uni- dos, o processo demora apenas algunsmeses. Essa comparação ajuda a entender a enorme distân- cia que se estabeleceu entre a universidade e a empresa no Brasil. É pela transferência institucional de conhe- cimento da universidade para a empresa que a pesquisa (muitas vezes ainda de ciência básica) se transforma em inovação. No Brasil, como a legislação inibe a parceria e não a promove, a integração da academia com o mundo empresarial não avança. A dificuldade de estabelecer parcerias explica a fragi- lidade no perfil de investimento empesquisa, muito con- centradona participaçãopública. Dados doMinistérioda Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) sinalizamque 51% dos gastos em pesquisa no Brasil em 2014 foram inves- timentos públicos, quase 80% deles em universidades públicas. Para citar dois exemplos, nos Estados Unidos essa participação estatal no esforço de pesquisa em2014 foi de 32%, enquanto no Japão o número foi de apenas 17%. Essa diferença tambémexplica a baixa capacidade de inovação no Brasil. Dados da Organização para Cooperação e Desenvol- vimento Econômico (OCDE) — que reúne as 34 maiores economias do mundo — mostram que, para cada dólar que o Estado gasta em pesquisa, a empresa gasta três dólares para amesma finalidade. Esta é amédia nas dez economiasmais industrializadas domundo. A razão da grande diferença de investimento está na possibilidade de transformação da pesquisa emnegócio. Se o investi- mento é estatal, esta transformação é lenta e complicada. Esse ponto, incentivar que a pesquisa vire negócio, é essencial para que a educação efetivamente coopere na recuperaçãoda capacidade de inovaçãonopaís. O “sentido” do diploma A discussão sobre como a educação pode ajudar o país a sair da crise passa, também, pelo modo como tanto a escola quanto o aluno veemo diploma. Umartigo publi- cado em outubro de 2015 pela revista The Economist botou o dedo na ferida: empresas enfrentam enorme dificuldade para encontrar o “trabalhador certo, apesar do diploma”. É curiosa a forma como a revista analisou o problema: pelo recuo nos salários dos diplomados, por- que eles não atendem às necessidades da organização. Desde 2000, como mostrou a Economist , os salários dos graduados perdem da inflação, porque eles não acom- panham as “pressões da globalização e da automação”. O cenário tratado pela revista é o da maior economia do planeta, a norte-americana. Emesmonessa economia as empresas não encontramas habilidades e competên- cias esperadas de um graduado, para enfrentar o com- petitivo mercado internacionalizado. Os salários, cada vez mais baixos, apenas refletem esse fato. A necessidade de significativa atualização curricu- lar é só a primeira etapa dessa mudança no “sentido” do diploma. O conjunto de atitudes esperadas de um graduado no cotidiano do trabalho tambémprecisa ser reformado. Omundo do trabalho, com a globalização, a robótica e a tecnologia da informação, mudou muito, e a universidade ainda não se deu conta da velocidade e profundidade dessa alteração. A íntegra do artigo da Eco- nomist pode ser lida no endereço: http://goo.gl/gJ5YqC. shutterstock

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