RESPM-JAN_FEV 2016
REVISTA DA ESPM | JANEIRO/FEVEREIRODE 2016 92 EMPREGO Diante dessa realidade, que já atingiu os que acabam de ingressar na universidade, qual é a preocupação da novata Geração Z? Os brasileiros nascidos no fim dos anos de 1990 chegaramao ensino superior emreconhe- cido contexto de crise econômica. Talvez o que mais a educação possa fazer para enfrentar a crise instalada desde 2008 seja entender melhor os anseios e preo- cupações da geração que irá enfrentá-la ao entrar no mercado de trabalho. Em novembro de 2015, a agência de publicidade J. Walter Thompson (JWT) divulgou uma pesquisa rea- lizada com 1,5 mil jovens brasileiros de diferentes classes sociais, nascidos nos anos finais do século passado. O levantamento aponta que 76% deles dizem estar “muito preocupados” com a economia. O conceito de “preocupado coma economia” tem tra- dução bemprecisa na pesquisa: oito de cada dez jovens declaram-se preocupados com a possibilidade de não ter emprego quando concluírem os estudos. A área de planejamento da JWT identificou significativamudança em relação à geração anterior, conhecida como Y ou Millennials. A Geração Z, “apesar de avançada” em questões como sexualidade, é bem “conservadora” na questão do trabalho, “preocupando-se com a estabili- dade e ter um emprego”. Bem diferentes dos membros da Geração Y, que observavamo país emcrescimento e “queriam ser empreendedores”. Dados dessa pesquisa foram publicados na edição do jornal Valor Econômico de 11 de novembro de 2015, em reportagem assinada por Gustavo Brigatto. Essa constatação é relevante para pensar o papel da educação e, especialmente, da universidade no equa- cionamento da crise econômica instalada desde 2008. Umdetalhe importante nos resultados desta pesquisa da JWT: 75% desses jovens disseram que serão mais bem-sucedidos que seus pais. Este dado da confiança é essencial para pensar no formato de currículo que os incentive e ajude o país a sair da crise. Essa percepção da confiança é essencial no enfren- tamento da crise. Algumas empresas decidiram ino- var na avaliação das competências dos seus profissio- nais e, de algummodo, sinalizar para a educação outro modo de enfrentar problemas. Um bom exemplo dessa mudança foi a decisão daMicrosoft Brasil emsubstituir, desde 2014, a avaliação dos funcionários. Até aquele ano, a iniciativa era realizada por método e baseada em um ranking interno de desempenho. Já o novo sis- tema adotado observa não só atividades e resultados, mas “tambémo impacto do funcionário no negócio, na área específica e na colaboração”, como detalha repor- tagempublicada no jornal OEstado de S.Paulo , no dia 20 de setembro de 2015. Essamudança empresta outro “sentido” não só para o diploma, mas também para a própria educação. Enfren- tar a crise passa por pensar diferente a lógica do trabalho e investir em comprometimento no que se faz, a partir do conhecimento que se adquiriu na escola. A fórmula é tão antiga quanto a humanidade. Foi comela que essa mesma humanidade colou nos chineses a ideia de que crise se transforma em oportunidade. Como todos nós esperamos que aconteça no Brasil. Mais uma vez. Leonardo Trevisan Graduado em história, mestre em história econômica, doutor em ciência política, jornalista e professor da ESPM shutterstock Coma globalização, a robótica e a tecnologia da informação, omundo do trabalhomudoumuito, e a universidade ainda não se deu conta da velocidade e profundidade dessa alteração
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