RESPM JUL_AGO 2016

85 julho/agostode 2016| RevistadaESPM Revista da ESPM — O senhor esti- ma que o Brasil tenha 70% de consul- tores autônomos. Mas, em termos de valor econômico, as grandes consul- torias abocanham um pedaço muito maior, correto? Medeiros —A relação emvalor da fatia de mercado é de aproximadamente 80% para os grandes e 20% para os au- tônomos. Empresas maiores deman- dam processos complexos e muito grandes. Assim sendo, é natural que exista essa diferença. No entanto, a basedapirâmidede clientes écompos- ta pelas pequenas e médias empresas. Essa cauda é longa e abre mercado para amaioria das empresas ou indiví- duos envolvidos comconsultorias. Até 20 anos atrás, havia um consenso de que sedevia investirmajoritariamente nos clientes que respondessem pela maior parte do faturamento. E aqueles que estavam lá embaixo não mere- ciam muito esforço e atenção. Hoje, essa teoria mudou: menos é mais. Várias consultorias da base da pirâ- mide têm foco no empreendedorismo. Hoje, a bola da vez são as pequenas e médias empresas. As grandes também interessam, mas a cauda longa [ descri- ta pela teoria de Chris Anderson ] está vindo desse empreendedorismo em ascensão. A base da pirâmide está na mira dos negócios. Revista da ESPM — Quais os setores que têmmaior demanda de consultoria? Medeiros —Saúde, telecomunicações, serviços públicos, tecnologia bancária e a indústria com toda a sua ramifica- ção. Tenho pessoalmente dois clientes públicos, um hospital e uma associa- ção patronal de saúde. Não são, neces- sariamente, órgãos do governo, mas prestamserviço público. Revista da ESPM — Dá para estimar quanto o setor de consultoria movimen- ta? É possível avaliar se a área progrediu ou regrediu coma crise? Medeiros — Não temos dados de mer- cado, porque a atividade é muito dis- persa e difícil de mensurar. Em maté- ria de contratos, houve necessidade de renegociá-los em face da crise, sem dúvida. Pelo que ouvimos de consul- tores, houve retração de até 20% nos negócios e agora começa a haver uma estabilização. Como não há uma ta- bela, tudo depende da magnitude do projeto, por isso não é simples avaliar se houve queda na remuneração. Revista da ESPM — A entidade de- fende um modelo claro de remuneração para o serviço de consultoria? Medeiros — Cada cliente é um clien- te, cada projeto é um projeto, haven- do várias formas de precificação. Vai muito da negociação. Ummodelo tra- dicional é por hora trabalhada. É um sistema que eu não gosto nem consi- dero muito ético. Quem vai controlar 300 horas trabalhadas? Muitos con- tratos são por preço fechado. É um modelo baseado na complexidade do trabalho, que eu gosto mais. Em projetos de revisão fiscal, tributária, o consultor pode também ganhar pelo resultado: em redução de impos- tos, em transferência de impostos e obrigações para o exercício seguinte. São três os tipos de pagamento: por hora trabalhada, contrato fechado ou por resultado. Comumente, estes são os três tipos, mas não vemos como propor uma solução única para preci- ficar a atividade do consultor. Revista da ESPM — Que perspectivas o senhor vê para a consultoria indepen- dente no Brasil? Medeiros — Eu vejo muitas possibili- dades de crescimento, desde que os profissionais se mobilizem para criar ummodelo de boas práticas. A disper- são permite essa barreira muito baixa de entrada. É preciso um filtro para capacitar aqueles que querem fazer carreira dos que são meros oportunis- tas. Nos próximos anos, eu vejo a con- sultoria como o plano A e não mais como uma segunda alternativa de trabalho. Vão ficar os bons, os que são qualificados. Muita gente vai cair fora. Revista da ESPM —Há um inchaço no mercado hoje? Medeiros — Lógico que sim. Muitos estão aí por empreendedorismo pes- soal. Saem de um emprego e tentam ser consultores. Por isso estamos trabalhando na organização de um fórum e para criar mais alternativas para qualificar esses profissionais. Émais fácil para umconsultor independente falar do que uma empresa de consultoria engajada internamente na companhia. Ele pode e deve pôr o dedo na ferida

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