RESPM_MAR_ABR 2016

Revista da ESPM |março/abril de 2016 110 Combustível um acordo nacional para em 1980 produzir 250 mil veículos movidos exclusivamente a etanol, 300 mil no ano seguinte e 350 mil em 1982. Oagronegócioproduziu etanol suficiente para abaste- cer esses veículos, em troca de uma promessa governa- mental de não efetivar o racionamento. O protocolo foi assinado em 19 de setembro de 1979 e representou um pequenosucessodomovimentoaoracionamentodopetró- leo, comoapontaMárioGarnero, no livro Energia: o futuro é hoje (Editora Anfavea, 1980). Parte do acordo envolveu umincentivofiscal do governopara carrosmovidos pelo novo motor, resultando em 5%menos de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O preço do etanol ao consumidor foi determinado pelo valor dos produtores mais o custo de distribuição. Comesta estratégia de preços, o custo final do etanol foi maior do que o da gasolina. Para compensar, o governo fixou o preço do etanol final em 65% do preço da gaso- lina (os motores a etanol tiveram um consumo 20% maior do que um motor regular a gasolina). Durante a Guerra Irã-Iraque, em 1982, o governo brasileiro fixou o preço do etanol em 59% do valor da gasolina para for- necer um incentivo ao consumo de etanol. Estes desen- volvimentos conduziram à interação entre duas áreas distintas: a fabricação do automóvel e a do agronegócio da cana-de-açúcar. Este breve relato histórico da experiência brasileira do etanol, desde a sua produção como combustível para misturar com a gasolina até a tecnologia combustível flex, traz alguma luz à inovação do sistema ou função social quepode ser dividida emtrês partes: o aumentoda produçãode etanol para atender àsmetas doProálcool de disponibilidade de gasohol (gasolina com álcool); a ado- ção do etanol puro emotor de etanol puro pela indústria; e o desenvolvimento do mercado (incluída nessa fase a resoluçãodeproblemasdedistribuição). Comocarroflex, oconsumidor poderia escolher omelhor combustível em matériadepreçoesustentabilidade.Essaflexibilidadetem “destravado” os consumidores para lidar com as oscila- ções de preçosmais suavemente. Nos anos 2000, o cres- cimentoda economiabrasileiraproporcionoua inclusão, no mercado de consumo, de uma grande proporção da população, anteriormenteexcluída, eumnúmero recorde de carros foi comercializado. Opreço do açúcar também foi bastante atraente durante esse período. Os investimentos foram e continuam a ser neces- sários para acompanhar esse aumento no mercado de consumo interno e na demanda externa por com- bustíveis sustentáveis. O sistema brasileiro de inova- ção ainda oferece incentivos para a inovação. Alguns exemplos futuros são: etanol de celulose; álcool para aviões; diesel a partir de etanol; lubrificantes à base de etanol; modificações genéticas das plantas de cana- de-açúcar; e novas fontes de etanol. A indústria auto- mobilística também está investindo na melhoria da eficiência dos motores f1ex. Em todas as fases de inovação, o etanol registrou alguns elementos comuns. O primeiro é a forte per- cepção de que um problema social pode ser resolvido rapidamente e a crença de que as coisas não devemcon- tinuar como elas estão. Em segundo lugar está a dispo- nibilidade de uma tecnologia que, quando combinada Tabela 1 | Fases do uso do etanol como um combustível Inovação Fase I gasohol Fase II etanol puro Fase III combustível flex Petróleo/ importações (%) Comercial Criatividade para resolver problemas logísticos Economia de escala fornecida por plantações de cana-de- açúcar Concorrência com açúcar e energia Acesso ao mercado global Tecnológica Protótipos de motores etanol (Fiat/CTA) O carro a álcool e a tecnologia de agronegócios O combustível flex para carros Etanol da celulose Institucional Crise do petróleo e desequilíbrio importação/ exportação; programa Proálcool Incentivos fiscais Demandas sustentáveis Instituições supranacionais

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx