RESPM_MAR_ABR 2016
entrevista | John Elkington Revista da ESPM |março/abril de 2016 16 estamos caminhando em direção à “era dourada” do ambientalismo. Em que estágio estamos neste momento, princi- palmente no que diz respeito à viabilida- de econômica dos projetos sustentáveis? Elkington —Paramim, a idadedeouro do ambientalismo seria aquela emque a necessidade de ONGs ambientais e de sustentabilidade pudesse ser superada, porque todo mundo estaria pensando e agindo da maneira certa. Este continua a ser umsonho distante. Estamos muito longe disso e eu não acredito que tantos jovens estão de fato comprometidos com a causa, como somos levados a acreditar. Mas os sinais de estresse ambiental são cada vez mais claros para fazer com que as lideranças abram a cabeça, já que questões como secas prolongadas e padrões climáticosmais turbulentos começama despertar a consciência de umnúmero cada vezmaior de pessoas para o que alguns chamam de “o novo normal”. Os decisores políticos têm sido lentos para agir de forma eficaz, mas aCOP-21 indicaqueanecessidade de fazer mudanças estruturais nas nossas economias é cada vez mais compreendida. Revista da ESPM — Pensando em um novo modelo de governança global, mais voltado para a sustentabilidade do planeta, que tipo de arranjo as grandes economias terão de fazer para equilibrar as forças do capitalismo sem cair na armadilha do protecionismo, que preju- dica os países em desenvolvimento? Elkington — Em um mundo ideal, estaríamos mais alertas para o risco de protestos sociais e revoltas causa- dos pelas desigualdades crescentes em nossas sociedades. Em um mun- do ideal, os nossos líderes políticos veriam as ameaças no horizonte e se esforçariam para ajudar seus elei- tores e cidadãos a contornar os pro- blemas. Mas o nosso mundo de hoje, que assiste à fratura das instituições internacionais criadas após a Segun- da Guerra Mundial, enfrenta outros desafios de segurança que parecem superar o problema das alterações climáticas. Estamos em um caminho longe do ideal. A eleição dos Estados Unidos tem sido uma bagunça e a União Europeia passa por muita tur- bulência, especialmente em face da imigração forçada do Norte da África e do Oriente Médio. A melhor manei- ra de evitar que as armadilhas prote- cionistas danifiquem as perspectivas para as economias emergentes e dos países em desenvolvimento é que es- ses mesmos países passem a desem- penhar um papel mais construtivo nas negociações internacionais sobre algumas das questões-chave que você mencionou acima. Revista da ESPM — A agricultura tro- pical está entrando em uma nova fase no Brasil, com a implementação da chama- da integração lavoura-pecuária-floresta, que aumenta a produtividade, reduz os custos e diminui a agressão ao ambiente. O óxido nitroso, por exemplo, tem a sua emissão diminuída em40%. Este e outros exemplos de novas técnicas poderão reduzir as barreiras ambientais que a Comunidade Europeia impõe ao Brasil? Elkington — Essa integração traz uma boa dose de bom-senso, embora eu não saiba muito sobre os detalhes dessa abordagemno Brasil. Os fatores que impulsionam barreiras ao comér- cio, incluindo travas ambientais, são muitos e variados. Então, eu não te- nho certeza de que reduzir o desmata- mento em seu próprio país atenderia a esses fins. Mas um progresso sério em reverter a perda de florestas refor- ça o lado do Brasil nas negociações. Revista da ESPM — Hoje, o Brasil não só possui um dos mais importantes patrimônios naturais do planeta, como também avançou muito em legislações de proteção ao meio ambiente nas duas últimas décadas. Na verdade, essa legis- lação é tão avançada que até preocupa as empresas, que reclamam da difi- culdade de obter licenças ambientais. Como conciliar esses dois extremos? Elkington — Pouca coisa na natureza humana evolui em linha reta. Para mexer uma agulha em questões polí- ticas, muitas vezes você tem de agir rápido para, em seguida, permitir que o sistema encontre um novo ponto de equilíbrio. Isso pode ser doloroso no curto prazo, mas provavelmente será necessário, pensando no futuro. O Brasil é um país maravilhoso, tem enorme potencial econômico e social, mas carrega seus problemas, alguns Pouca coisa na natureza humana evolui em linha reta. Paramexer uma agulha emquestões políticas, muitas vezes você temde agir rápido para permitir que o sistema encontre umnovo ponto de equilíbrio
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