RESPM_MAR_ABR 2016

Revista da ESPM |março/abril de 2016 20 Educação Essa compatibilização entre necessidades/deman- das e disponibilidades/ofertas é feita, em parte, pela tecnologia, que busca economizar recursos ao combi- nar o conhecido à criatividade para produzir soluções inovadoras. A tecnologia cria alternativas. Até agora nós só trabalhamos seriamente esse domínio. Acon- tece que, quando a tecnologia não supre plenamente as necessidades, ela tem de ser complementada por uma disciplina das atitudes individuais e coletivas, hábitos que as políticas públicas, o esforço social e os debates ideológicos vão forjando nas pessoas. Aadequa- ção pode vir pela tecnologia, que faz mais commenos e encontra suprimentos alternativos, ou pode chegar pela ponta do consumo, na qual umamaior moderação certamente será favorável à solução dos problemas. O ideal, óbvio, é que ambas se combinem, pois as atitudes tornammenos pesada a tarefa da tecnologia. As escalas de reprodução da economia mundial se tornaram de tal forma significativas que, para manter esse nível de produção e prosseguir na incorporação das populações que estavam antes fora do mundo do con- sumo, um esforço intenso terá de ser feito para desen- volver uma atitude de responsabilidade ecológica por parte das pessoas. A dificuldade desse tipo de avanço pode ser estimada pelos impasses nas discussões sobre mudanças climáticas. No momento em que a constru- ção da sustentabilidade passa a envolver custos que impactamos níveis de crescimento dos países, quando custos têmde ser arbitrados entre povos diferentes, as resistências se tornam enormes, a tendência de tentar transferir custos de uns para os outros se torna forte e os avanços se tornam lentos. Enquanto isso, o mundo segue tentando crescer. Quando não cresce, o problema aparece de outro lado. Paramuitos, o desemprego é umproblemamaior emais sério, pois até agora não se construiu solução satisfató- ria para ele numa sociedade que se organiza em torno do trabalho social. A população atingirá 10 bilhões de habitantes até a metade deste século, quando estará emvia de estabilização. Proporcionar vida digna a toda essa gente vai movimentar uma enorme quantidade de recursos. Enquanto uma parte relevante da população do mundo não tiver acesso às principais comodida- des, a economia seguirá pressionando para produzir a quantidade que permitirá aos novos consumidores ter acesso aos bens que passaram a desejar. O capita- lismo tem sobrevivido deslocando para mais longe os horizontes de consumo. Enquanto essa fronteira — a do consumo — estiver em expansão, as necessidades e as demandas seguirão em alta. Essemovimentodeexpansãorumoàvirtual totalidade dos consumidores é inexorável e decorre da combinação entre a lógica do desejo humano e a lógica dos empre- endimentos privados. As pessoas lutampara melhorar suas condições de vida e para isso estão prontas para produzirmais, como tambémparaconsumir tudoque for produzido a mais. Enquanto houver pessoas buscando ascender, lutando para melhorar de vida e para isso se dispondo a trabalhar com afinco, esta lógica se impõe. A sustentabilidade virá da conjunção entre uma elevada produtividade e a expansão de riqueza social de natureza pública

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