RESPM_MAR_ABR 2016

março/abril de 2016| RevistadaESPM 21 Impulsionada por esse processo quase que inexorá- vel, movido a desejo e expectativas, a economiamundial seguirá aumentando o consumo de energia e recursos naturais. Enquanto os estratos sociaismais ricos segui- rem ampliando o seu próprio consumo, um impulso de emulação desce das classes abastadas às classes médias e daí às mais pobres, as classes emergentes buscando imitar o consumo dos mais ricos. Enquanto os abastados continuarem aumentando sua “pegada ecológica”, os estratos sociais mais baixos pressiona- rão para ter acesso, ainda que mitigado, a esse estilo de vida. A engrenagem econômica põe-se em marcha a partir desse impulso básico, visceral, telúrico, se me for concedida uma licença poética. Em algum momento, para se tornar sustentável, a humanidade será obrigada a considerar, pensar e com- portar-se de forma compatível com a percepção de que seu padrão de consumo privado já se tornou razoável, que ele basta no essencial, e que o mais importante doravante será consumir coisas que geram qualidade de vida sem criar problemas novos — externalidades negativas — para o meio ambiente e a sociedade. Deve- remos consumir cada vez mais bens e serviços que possam ser compartilhados, bens cujo usufruto por uns não será incompatível com o usufruto por outros, assim como formas de riqueza que possam ser repro- duzidas com menor custo em recursos naturais, que beneficiem um maior número de pessoas. Deveremos reduzir o consumo de coisas pouco úteis, que geram lixo, usam energia ou materiais em excesso. Há for- mas de riqueza cujo desfrute por uns não conflita com o desfrute de outros. Informações, espaços públicos, conhecimento sob a forma digital e bens coletivos são algumas dessas formas. Esses tipos de riqueza deverão se expandir, enquanto as formas privadas de riqueza deverão caminhar para a estabilização oumesmo, numa situação mais avançada, para a regressão. O objetivo de vida das pessoas deverá ser menos autocentrado para se tornar mais coletivo, social, soli- dário e menos competitivo por riquezas distintivas. O benefício público das ações privadas deverá adquirir relevância crescente. Os processos do Estado sofrerão escrutínio cada vez mais vigilante e severo. Ganhos pessoais terão de, emalgummomento, prestar conta ao interesse público, como forma de adquirir maior legi- timidade. Isso implicará a redução do consumo de cer- tos tipos de bens e serviços e exigirá uma parte maior dos nossos orçamentos para investimentos em bens públicos. Impostos tenderão a aumentar, a não ser que os gastos do Estado sejam revistos em profundidade e, mais provavelmente, ambas as coisas acontecerão. A sustentabilidade virá da conjunção entre uma elevada produtividade e a expansão de riqueza social de natu- reza pública (atenção: riqueza pública pode ser, mas não é, necessariamente, estatal). Essemovimento já se iniciou. Os paísesmais avança- dos domundo são, e não por coincidência, aqueles onde tais tendências se apresentammais claramente. A evo- lução da humanidade já está emmarcha. Ela implicará mudanças significativas nas formas de se relacionar e nos valores compartilhados. Trata-se da transformação de valores éticos em escala humanitária. Para que o processo avance na velocidade comque as exigências estão se apresentando, amudança climática sendo a urgência mais aparente, não se pode deixá-lo shutterstock

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