RESPM_MAR_ABR 2016
março/abril de 2016| RevistadaESPM 23 Odesafio deste século será produzir e consumir de maneira compatível coma base de recursos à disposição, evitando assimo desperdício agressivas à natureza. Aceitarão pagar mais impostos para ter bens públicos de melhor qualidade e o Estado, em contrapartida, aceitará o exame de suas decisões estratégicas e, sobretudo, de seus gastos correntes. Tudo isso são atitudes, decisões e opções individuais e coletivas baseadas em dimensões éticas. Não haverá como fazer isso semenvolver amplamente o sistema de formação da cidadania, cujo maior subsistema é a edu- cação pública e privada. De modo crescente, a dimen- são ética permeará de forma cada vezmais profunda os meios de difusão cultural e ideológica. Nessemeiomilênio de eramoderna, as grandes espe- ranças de evolução social foramdepositadas na técnica e na tecnologia — e isso fazia todo sentido. Lutar contra essa tendência, quase sempre foi retrógrado, prejudi- cava a prosperidade das nações, dos povos e das pes- soas. Deslocar a esperança de bem-estar depositada nas religiões para a expectativa de conhecimento cien- tífico e técnico foi a base da modernidade. Mas, hoje, a técnica gira, cada vez mais, em torno de si própria e encontra uma série de dificuldades para transformar a sociedade na direção do que é realmente necessário. Amaior parte de seus impulsos resulta em empurrar o processo para frente, mantendo tendências passadas. A técnica certamente pode ainda oferecer muito, mas hoje frequentemente parece “mais do mesmo”, apenas mais bem incrementado. O direcionamento da técnica e do consumo por reflexões de cunho ético será o pró- ximo grandemomento da humanidade. Isso exigirá uma retomada da educação moral de toda a sociedade, pois ninguém duvidará que é pelas crianças e jovens que é mais fácil começar. A escola, esta instituição já quase milenar e que nunca cessou de transformar a sociedade, deverá ser a protagonista essencial —mas fazendo algo que a escola brasileira parou de fazer (e já fazia muito malfeito), há 30 anos, que é uma educação ética — o con- ceito é “educação moral” — voltada para tais objetivos. Uma educação moral contemporânea abordará as regras da civilidade social, os valores da retidão pública e privada, a igualdade dos direitos de gênero, a relevância dos deveres internalizados para o bom funcionamento de toda a sociedade e, sobretudo, as atitudes da susten- tabilidade. Curiosamente, foi neste último campo que a educação brasileira avançou um pouco. Mas a ques- tão é mais abrangente do que somente a sustentabili- dade, e ela deve fazer parte de uma filosofiamoral mais ampla: a filosofia de uma sociedade livre, justa, equâ- nime e sustentável. Talvez seja nesse domínio que se definirá a próxima era histórica. Se fracassarmos, o futuro se tornará imponderável, enfrentará riscos crescentes e confli- tos possivelmente cada vez mais fortes. Esse será, cer- tamente, um cenário a ser evitado a todo custo, pois as consequências seriam duras. Renato Caporali Economista, mestre em filosofia, doutor em desenvolvimento sustentável e contribui com a Unesco no Projeto Sesi de Ética na Educação para o Mundo do Trabalho shutterstock
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