RESPM_MAR_ABR 2016
entrevista | Sonia Consiglio Favaretto Revista da ESPM |março/abril de 2016 36 primeiro índice a ser criado, em 1999. Depois vieram Londres, em 2001; Johanesburgo, em 2003; e São Paulo, em 2005. África do Sul e Brasil são as referências em sus- tentabilidade em bolsa, no mundo, por suas práticas. Não basta ter um índice. É o que você, como bolsa, faz. Como trabalha com as suas empresas? Como capacita? Como convence? No conjunto da obra, a Bolsa de Johanesburgo e a BM&FBovespa são as que mais têm práticas em todos os pontos esperados. Revista da ESPM — Quantos índi- ces desse tipo existem hoje? Sonia — Temos elencados 19, que são os mais conhecidos, mas deve ter mais. A Bolsa de Santiago, por exemplo, lançou seu índice de sus- tentabilidade no ano passado. Revista da ESPM — Há alguma vantagem concreta para uma empresa participar do ISE? Sonia — Sim, vou dar um exemplo. Nós encomendamos para a FGV um paper que trata disso. Chama-se “O valor do ISE”. Ele reuniu seis pes- quisas nacionais e internacionais sobre o ISE. Um dos resultados do estudo foi de que empresas da car- teira do ISE têm valor de mercado de 10% a 19% maior do que o grupo de controle correspondente. Outro dado: estar no ISE já é critério de alocação de 5% do total de ativos sob gestão dos principais fundos de pensão do país. Revista da ESPM — Dá para dizer que isso acontece porque as em- presas que estão no ISE são mais lucrativas, ou seja, têm melhor de- sempenho? Ou o investidor acaba privilegiando essas empresas por en- tender que elas são um investimento mais seguro no longo prazo? Sonia — É difícil dizer. Para isso, teríamos de fazer uma pesquisa mais aprofundada com os inves- tidores. A valorização das empre- sas do ISE é, sem dúvida, maior. De dezembro de 2005 a fevereiro de 2016, o ISE teve uma rentabili- dade de 149,28%, e o Ibovespa, de 60,71%. O desempenho é melhor e a volatilidade é menor. É uma carteira de menor risco que o Ibo- vespa, por exemplo. Revista da ESPM — Se abrirmos um pouco o foco e olharmos o que os índi- ces desse tipo que existem no mundo mostram, o ISE está alinhado? Sonia — Mostram o mesmo com- portamento. Seja nas bolsas do Peru, da Colômbia e do México, nos índices europeus ou no Dow Jones. Todos os índices de susten- tabilidade apresentam desempe- nho melhor do que o seu principal índice de referência. Revista da ESPM — Esse gap é maior na Europa? Son i a — Eu d i r ia que sim, por tudo o que conheço dos mercados eu ropeus. Quando ana l isamos o Europe Sustainability Index, é possível notar que ele teve mais 6,2% do que o índice de referência. Já o Dow Jones teve 10,8% mais. Foi até melhor, mas aí é preciso ver a composição do índice, quantas empresas têm ali dentro. O merca- do americano é enorme! Na Euro- pa, a opinião do consumidor está fazendo a diferença. Existe um ativismo, uma cultura local, dife- rente do que existe aqui. Se isso reflete no desempenho das ações, é difícil afirmar. Re v i s t a da ESPM — De todo modo, se o desempenho das em- presas sustentáveis é melhor, não faria sentido deixar de investir nas empresas do ISE por causa de uma crise econômica, certo? Sonia — Depende da estratégia de cada empresa. De como cada uma é gerida. As empresas estão em estágios de maturidade diferentes. Aquelas que estão entendendo do que estamos falando não voltaram at rás. E há a va riável do risco. Muitas empresas têm perdido di- nheiro, porque não perceberam o risco que há por trás das questões ambientais e de reputação. Sus- tentabilidade ainda é uma agenda mais de risco do que de retorno. A transformação acontece, mas numa velocidade menor do que você gostaria. Eu sempre falo sobre o copomeio cheio, porque, se olhar para o copo meio vazio, você sai desta área
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