RESPM_MAR_ABR 2016

Revista da ESPM |março/abril de 2016 48 Revista da ESPM — Por que você resolveu apostar na criação de emba- lagens biodegradáveis e compostáveis? Cláudio Bastos — Sou engenheiro. Tenho 67 anos e já fui até presidente demultinacional. Há 15 anos começei a pensar em fazer algo para contribuir com a sociedade e com as gerações futuras. Como um dos grandes pro- blemas do mundo é o lixo, eu optei por estudar resíduos sólidos. Eu que- ria inovar, por isso comecei a testar fontes renováveis de matéria-prima e a pensar no conceito de economia circular. Queria um material que me permitisse aproveitá-lo todo, e assim fechar o ciclo do produto: do berço ao túmulo, como diz o livro Cradle to cradle — criar e reciclar ilimitadamente [Gustavo Gili Editora, 2014]. Em 2002, eu fundei a CBPak com o objetivo de produzir embalagens compostáveis. Revista da ESPM — Como você che- gou à conclusão de que a melhor maté- ria-prima era a mandioca? Cláudio —Quando comecei a estudar o assunto, pensei em usar o milho ou a cana-de-açúcar. Mas, na agenda internacional, existe uma discussão para limitar o uso de todo vegetal para ração animal, e não para fins industriais. Então, passei a pesqui- sar outras fontes, e a mandioca foi a que mais se adequou ao meu projeto. Descobri a indústria da fecularia, que transforma a mandioca brava [ in natura ] em amido, um insumo que no Brasil está disponível em larga escala. Com a matéria-prima definida, fiquei de 2002 a 2007 in- vestindo em pesquisa e desenvolvi- mento [P&D]. Investi R$ 3milhões na criação de uma máquina-protótipo para mostrar ao mercado que era possível fazer o copo de mandioca em escala industrial. Aí, bati na por- ta do BNDES, que fez um aporte de R$ 3 milhões. Em 2007 começamos a venda do produto. Logo descobri que era impossível concorrer com os produtos convencionais, porque meu produto é a alternativa ecologi- camente correta para embalagens descartáveis. Mas só este apelo não foi suficiente para atrair o mercado comprador. O produto era inovador e sustentável, mas a pergunta do clien- te continuava amesma: quanto custa e quem paga essa conta? Por isso, eu fui fazer mestrado de metrologia na PUC-Rio, para aprender a monetizar esse atributo de valor. Revista da ESPM — O que mudou no planejamento da CBPak após o curso? Cláudio —Descobri que, quando uma inovação sustentável é lançada, não existe benchmark a ser seguido. Você simplesmente não tem histórico nem referencial do tamanho desse mercado. Logo, é impossível fazer um plano de negócios para uma empresa especializada em inovação sustentá- vel. Nesse caso, a principal estratégia é pensar em um modelo de negócio diferenciado para vender a sua ideia. Nós modelamos a CBPak para um crescimento dentro de uma escala- bilidade: não adianta eu montar uma fábrica de milhões de peças sabendo que terei de levar os copos para todo o Brasil. Não faz sentido ter uma única fábrica, porque o produto ocupa espa- ço, mas é leve. E todos sabemos que, em determinadas regiões, o frete custa mais caro que as embalagens. Dessa forma, montei uma fábrica pequena no Rio de Janeiro, com ca- pacidade de produzir doismilhões de peças por mês, em três turnos. Estru- turei um modelo de negócios focado em parcerias locais, ou seja, posso montar a fábrica perto do cliente. Revista da ESPM — Desde 2014, o Google é cliente da CBPak. O que levou a gigante do mundo virtual a investir em copos e bandejas de mandioca? Cláudio — O Google nos procurou porque um dia alguém da empresa abriu a torneira e não saiu água por conta do racionamento que a cidade de São Paulo enfrentou na época. Como eles usavam canecas de louça, que precisavam ser lavadas, aca- baram buscando uma alternativa Mandiocaparadar evender! Há 15 anos, Cláudio Bastos, proprietário da CBPak, desenvolve embalagens à base de mandioca, que em três meses se decompõem e viram terra vegetal! cbpak | Cláudio Bastos

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx