RESPM_MAR_ABR 2016

entrevista | Tadeu Nardocci Revista da ESPM |março/abril de 2016 72 é fundamental. É uma coisa que nós conseguimos no Brasil. Aqui se perde muito pouco desse metal, que é realmente importante. Esta é uma das razões do sucesso desse produto no Brasil. Além do fato de o alumínio ter uma funcionalida- de muito boa. Revista da ESPM — Há uma críti- ca à cadeia de reciclagem do Brasil. Ela se justifica, primeiro, porque se joga muita lata no lixo. Segundo, e principalmente, porque há um grande contingente de brasileiros miseráveis que vivem de fazer esse tipo de coleta. Como escapar desta situação? Nardocci — Eu me perguntava isso também. A cadeia de suprimento de latas de alumínio usadas evo- luiu muito. Hoje há agregadores, há centrais de coleta, há ONGs que se dedicam a isso. Essa cadeia pas- sou por um teste interessante, por- que o Brasil passou por um aumen- to de renda muito importante, e o modelo não só se sustentou como t ambém cresceu . A classe que mais se movimentou foi justamen- te aquela que, a princípio, estava mais ligada à atividade de coleta de sucata. O setor passou por esse teste e não perdeu o gás. Hoje há uma comunidade de recicladores no Brasil muito mais organizada. Evoluímos daquela ideia inicial de trocar uma latinha por um brinde, que tínhamos em 1994, para negó- cios de reciclagem com empresas estruturadas para coleta, limpeza e fundição. Revista da ESPM — Essas empresas são parceiras de negócio de vocês? Nardocci — Algumas são parceiras e outras competem conosco pela mesma matéria-prima. Revista da ESPM — Como pode ser a transição do nosso modelo, que depende de gente muito pobre para coletar latinha, para um modelo como o da Suíça, que também é caso de sucesso? Nardocci — A legislação teria de obri- gar o consumidor a fazer o descarte correto do produto que consome. Ainda não temos nenhuma cidade no Brasil que tenha esse modelo. Revista da ESPM — Basicamente, você tiraria o catador dessa cadeia? O sistema de limpeza pública retiraria as latas de alumínio já separadas pe- los próprios consumidores? Nardocci — É assim que funciona na Suíça. Você, como consumidor, tem a obrigação de levar o li xo reciclável a centros de coleta e de agregação. Não é só a lata. É tudo. Se o seu computador chegou ao fim da vida útil e você vai jogar fora, não deve pôr no lixo. Obviamente, o cidadão lá é mais educado, mas tem também o enforcement . Se não o fizer, sofrerá uma sanção. Revista da ESPM — Essa cadeia, en- tão, não depende de um contingente de miseráveis? Nardocci — Não, lá [na Suíça], não depende, de forma nenhuma. Mes- mo em outros países da Europa, onde não há essa legislação tão estrita, a taxa de reciclagem de lati- nhas chega a 90%. Revista da ESPM — O sucesso da reciclagem das latas de alumínio tem a ver com pioneirismo? Nardocci — Não. Quando nós in- troduzimos as latas de alumínio no Brasil, em outubro de 1989, já existia em larga escala, nos Esta- dos Unidos, na Europa e no Japão. Vimos aqui no Brasil uma oportuni- dade enorme. Pelo clima, pelos be- nefícios da embalagem, pelo apelo de consumir fora de casa. Não fazia sentido não ter. Revista da ESPM — Nos últimos cinco anos, a Novelis dobrou a sua capacidade de reciclagem e reduziu as emissões de gases do efeito estufa em 13%. Como foi possível e até aonde dá para ir? Nardocci — Isso foi possível por- que investimos US$ 500 milhões no Brasil. Você aumenta a recicla- gem porque espera vender mais produtos. Nós investimos em ca- pacidade de produção de lamina- Sustentabilidade no longo prazo, disponibilidade de matéria-prima e ter um custo mais competitivo. São estes três pontos que fazemda reciclagem uma oportunidade interessante

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx