RESPM_MAR_ABR 2016
março/abril de 2016| RevistadaESPM 89 Goldemberg — O mundo tem ficado mais eletrificado, demandando me- nos uso do petróleo. Alguns países mais ricos têm usado o carvão no lugar do petróleo. A China, diante do consumo maior do carvão, assumiu a meta, a partir de 2030, de reduzir a po- luição decorrente desse fóssil usando mais fontes de energia alternativas. Os carros, por sua vez, se tornaram mais eficientes no consumo de petró- leo, fazemmais quilômetros por litro. Temos também o uso do etanol, entre outros. Se o preço do petróleo cair mais ainda, não vai importar tanto. Se a gasolina ficarmuito barata de um lado, ou de outro alcançarmos uma eficiência de 100 quilômetros por litro de combustível, o fato é que não há ritmo de vida que resista a tanto combustível fóssil. Os países buscam novas tecnologias de energias mais limpas, mais baratas, como a eólica, que vai muito bem e é competitiva tanto na China quanto no Brasil. Revista da ESPM — Na última dé- cada, o Brasil “sujou” razoavelmente sua matriz energética. Havia um fato concreto por trás disso que era a necessidade de reforçar nossa segu- rança energética, muito suscetível às questões climáticas. Como o senhor avalia essa estratégia? Poderíamos ter feito diferente, sem perder o sentido de urgência em garantir o pleno abasteci- mento de energia? Goldemberg — A nossa grande vanta- gem eram as hidrelétricas, que corres- pondiampor 85% da geração, mas elas ficaram vulneráveis. O governo teve de usar as termelétricas, pois os níveis de reserva eram muito restritos, e assim houve a carbonização, em 2012, da matriz energética. O que houve foi o surgimento de políticas equivoca- das. A primeira foi estimular a linha branca, quando havia pouca água nos reservatórios. Asegunda foi a diminui- ção das tarifas de eletricidade em20%, causando a insolvência das empresas e um posterior socorro do Tesouro Nacional. Aúnica solução foi empregar as termelétricas, desativadas emparte agora porque tem chovido bastante. Mas a solução para o longo prazo são as energias renováveis associadas às hidrelétricas com reservatórios maiores de água. Quando venta, usar energia eólica. Quando não venta, tra- balhar comhidrelétricas. Aqui se trata de complementaridade. Como não se pode armazenar energia eólica, usa-se a energia hidrelétricana falta de vento. Revista da ESPM — A questão, porém, é a de que há limites para a energia hidrelétrica por problemas am- bientais, sobretudo a invasão da flores- ta que limita os reservatórios. Ainda há espaço para crescermos nessa matriz? Goldemberg — Para os próximos dez ou 15 anos, acredito que ainda exista espaço para hidrelétricas. No Norte e Nordeste há condições estáveis para a energia eólica. No Rio Grande do Nor- te, por exemplo, venta o tempo todo, continuamente. Em São Paulo os ven- tos já sãomuito variáveis e por isso de- pende-semais de energia hidrelétrica. Revista da ESPM — E a energia so- lar? Como a Alemanha, um país com pouco sol para os nossos padrões tro- picais, tem tanto progresso nessa ener- shutterstock Nãohá ritmodevidaque resistaa tantocombustível fóssil. Ospaíses já perceberamissoeestãoembuscadeenergias limpas,maisbaratas, comoaeólica
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