RESPM_MAR_ABR 2016
Revista da ESPM |março/abril de 2016 94 Biomassa A cana pode ser utilizada por completo – caldo, bagaço e palha – para produzir bioquímicos, biocombustíveis (como o etanol de segunda geração) e atémesmona geração de energia elétrica Certamente, esta é a chance de o Brasil buscar seu papel de liderança e mostrar todo o seu potencial e a sua riqueza em algo que nenhum outro país tem: a bio- massamais competitiva domundo. Desdemuito tempo, a cana-de-açúcar tem sido desenvolvida e utilizada na produção de açúcar e etanol, por meio da utilização do seu caldo, mas seu potencial produtivo vai muito além disso. A cana pode ser utilizada por completo – caldo, bagaço e palha – para produzir bioquímicos, biocombustíveis (como o etanol de segunda geração) e até mesmo na geração de energia elétrica. Tudo isso sem poluir o planeta, sem competir com alimentos e removendo, continuamente, carbono da atmosfera, graças à fotossíntese. Além disso, uma “volta ao passado” permitiu trazer ao mercado a cana-energia, uma variedade que deriva da já conhecida cana-de-açúcar, capaz de proporcionar maior produtividade por hectare. Isso se deve ao fato de que a cana-energia é otimizada para a plena conversãodo açúcar solúvel embiomassa, passando a “vegetar” mais e acumular menos açúcar no caldo. Desenvolvida para ter mais fibra do que açúcar, as cultivares de cana-ener- gia tendema ser mais rústicas do que a cana tradicional emais resistente a estresses bióticos (como pragas, fun- gos e bactérias) e abióticos (deficit de recursos hídricos), o que a torna uma excelente opção de matéria-prima para locais combaixa aptidão agrícola, como pastagens degradadas. Para se chegar a ela, é feito o cruzamento de espécies ancestrais e híbridos comerciais da cana- de-açúcar, que resultamemuma variedademais fibrosa e rústica. Dessa forma, a cana-energia permite a explo- ração de regiões desfavorecidas e tambémo aumento da produtividade por hectare, possibilitando até a redução da área plantada para obtenção da mesma quantidade de combustíveis (alémde outras moléculas). Essa variedade é estudada há tempos por empresas e institutos de pesquisa. Na GranBio, empresa brasileira de biotecnologia industrial, demos início ao nosso pro- grama de melhoramento genético em 2012, com tipos ancestrais de cana-de-açúcar oriundos de bancos de germoplasma (material genético usado no cruzamento) de instituições parceiras, como os Centros de Barbados, Miami, IAC e Ridesa. A partir daí, demos sequência aos cruzamentos e seleção de indivíduos até chegarmos a variedades com as características desejadas. A Cana Vertix®, como foi batizada, ultrapassa a produtividade de 180 toneladas por hectare de biomassa e seu teor de fibras pode chegar a 33%, valores duas vezesmaiores que os da cana tradicional. Estudiosos do tema garantemque essaprodutividadepode ser consideravelmentemaior, na medida emquenovas cultivares foremobtidas. Afinal, os programas de melhoramento genético dessa variedade estão apenas começando. Esses são exemplos de investimentos em riquezas e aptidões nacionais, capazes de promover uma verdadeira revolução energética, mudar o rumo das mudanças cli- máticas e, ainda, gerar lucro para as empresas e, conse- quentemente, desenvolvimento econômico e social para o país. O potencial do Brasil é enorme e temos de apro- veitar os talentos que temos por aqui. Então, por que não juntarmos asmentes brilhantes, os recursos abundantes e a vontade de empreender? Alan Hiltner Vice-presidente de negócios da GranBio shutterstock shutterstock
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