RESPM SET-OUT 2016
entrevista | Nicola Calicchio Neto Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 102 Revista da ESPM — Passamos por uma troca de governo e surgem os primeiros sinais de que o país começa a sair da fase mais aguda da crise. Podemos ser otimistas com a economia no curto prazo? Nicola Calicchio Neto — Otimistas emrelação a quê? Revista da ESPM — Se o PIB sair do vermelho, já não é uma razão para otimismo? Nicola — O Brasil é um país grande e democrático. Todo mundo diz que o nosso potencial é enorme, que so- mos um país estável, com população grande, poder de consumo e uma boa força empresarial. O Brasil tem todas as condições, mas por que trava? O nosso potencial de crescimento é de 2%. Com direção pífia, o potencial cai para -2%. Isso é pouco. Por que o Bra- sil não poderia entrar numa rota de crescimento acelerado? Porque não tem fundamento, emnível estrutural. Se fizermos a lição de casa, teremos potencial para crescer a 100 quilôme- tros por hora. Fazendo a reforma tri- butária, por exemplo. Ninguém acre- dita, mas é possível. O Brasil pode crescer 3%. Mas não consegue, falta ânimo para discutir. Tem se falado que o novo governo perdeu a batalha da comunicação nos anúncios de me- didas. Por quê? Porque se diz muita coisa errada e não aquilo que deve ser feito ou por que precisa ser feito. Revista da ESPM — O senhor afirma que o Brasil jogou fora seus últimos 50 anos em relação a vários outros países. O que precisamos para reverter esse diagnóstico e entrar numa rota virtuosa nos próximos 50? Nicola — É triste pensar que nessas últimas cincodécadas oBrasil não ab- sorveu nada da experiência dos Esta- dosUnidos. Nada. AChina aprendeu e tirou toda a diferença que tinha como Brasil. Há 50 anos, o brasileiro era dez vezes mais rico que o chinês. Agora, ambos são iguais na renda. É patético. Continuamos sendo uma fração do americano. Mas vamos olhar para frente. Eu vejo cinco ações necessá- rias para agilizar o nosso crescimen- to. Aprimeira é zerar o deficit público, que hoje é de R$ 170 bilhões. Quando você gasta mais do que ganha, paga juros e fica numa situação vulnerável. Como governo é a mesma coisa. Você precisa cortar os gastos para conter o deficit. Temos de trabalhar para aumentar a receita, sem aumentar o imposto. Por quê? A dívida ativa é de R$ 1,5 bilhão. Em relação aos credo- res do governo federal, é precisomon- tar uma força-tarefa composta por membros do Executivo, do Judiciário e do Legislativo para rever, alongar pagamentos. É melhor renegociar do que aumentar impostos. Revista da ESPM — O que mais é necessário? Nicola — Deve-se verificar a eficiência dos gastos públicos. Por exemplo: metade dos órgãos públicos federais simplesmente não avalia o desem- penho de seus servidores. A maioria das pessoas trabalha no setor privado e tem metas a cumprir. Caso você não consiga cumprir a meta, recebe outra chance ou treinamento. Se, mesmo assim, você não cumpre as metas, é despedido. Caso o funcio- nário público não alcance as metas, nada acontece. Está errado. Volto ao tema da comunicação. Como explicar ao público a falta de desempenho do servidor público? Há muito para ser shutterstock Há50anos, obrasileiroeradezvezesmais ricoqueochinês. Agora, ambossão iguaisna renda. Épatético. Continuamossendouma fraçãodomercadoamericano
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