RESPM SET-OUT 2016

setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 13 querda fiscalmente responsável. Isso, na América Latina, é raro. A esquer- da, emgeral, na América Latina, mete os pés pelas mãos, como se viu no Brasil, na Venezuela e na Argentina. Revista da ESPM — A resposta à crise de 2008 é que muda o cenário? Pessôa — A resposta foi o interven- cionismo estatal. E a consequência disso foi a redução da produtividade. Se olharmos para o regime militar, o país passou por um ciclo igualzinho. Tivemos Castelo Branco, que refor- mou muito, liberalizou mercados e fez um excelente governo. O governo Médici colheu o crescimento. Nomeu entender, a maturação de reformas institucionais ocorreu no governo de Castelo Branco. Mas terminou com uma crise externa e a triplicação do preço internacional do petróleo. A resposta que os formuladores da po- lítica econômica deram, no governo Geisel, foi intervencionismo estatal. No regime militar, passamos por esse ciclo pela direita e agora, no período democrático, passamos por este ciclo pela esquerda. Cometendo os mes- mos acertos e osmesmos erros. Revista da ESPM — Quais são as con- sequências e os antídotos para a queda da produtividade? Pessôa — A pior consequência dire- ta, por definição, é que o PIB cresce menos. O antídoto é voltar para onde estávamos. Realismo tarifário, parar de controlar preço, dar independên- cia para o Banco Central perseguir a política necessária para direcionar a inflação à meta, arrumar o setor elé- trico. Nós temos de voltar para onde o país estava em 2006 e, a partir daí, buscar aquelas agendas que estavam soltas, perdidas, e retomá-las. Revista da ESPM — Você concorda com a tese de que está havendo uma desindustrialização do Brasil? Pessôa — É claro que sim. É só olhar os números. A outra questão é saber se a desindustrialização é dramática. Não é. Não há motivo que justifique a indústria ser tratada como especial, melhor ou diferente de outros setores da economia. A indústria é um setor importantíssimo, mas tão importante quantoqualquer outro. Nãohánadana indústria que a torne mais relevante que os demais. Em economia, não é um adjetivo sem conteúdo. Ele tem um conteúdo forte. Na economia, os preços expressam a importância das coisas. É a teoria do valor. O que algu- mas pessoas dizem é que o valor da indústria para a economia brasileira é maior do que o expresso pelas contas nacionais. Revista da ESPM — Qual é o argu- mento para defender essa proposição? Pessôa — O argumento é o de que, quando produzo bens industriais, gero um ganho de renda maior do que o precificado pelo valor da indús- tria. Por algum motivo que ninguém explica direito... Revista da ESPM — Vejo que você não concorda com essa hipótese. Pessôa — Na educação, isso faz al- gum sentido. Porque, se melhora a educação de um indivíduo, ele será um melhor trabalhador. Ao ser um trabalhador melhor, o salário dele au- menta. Se você acha que o salário con- segue reproduzir relativamente bem a produtividade, então, teoricamente, shutterstock Tantopaíspobrequantopaís rico têmempresasprodutivas. Adiferençaéque, no país rico, nãoháempresaspoucoprodutivas. Sóháempresasmuitoprodutivas

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