RESPM SET-OUT 2016

setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 15 bater isso com o custo de capital e decidir se você vai pegar dinheiro num banco, levantar capital e fazer um investimento. O aprofundamen- to da crise é fruto de uma debacle do investimento por uma questão de expectativas. Por mais que se tenha umgovernomelhor, a inconsistência fiscal persiste. Revista da ESPM — Encontrei uma declaração sua, defendendo que o Ban- co Central deveria fixar para 2017 uma meta de inflação um pouco maior para estimular o crescimento. Qual é a chan- ce de isso acontecer, com Ilan Goldfajn no comando do BC, e qual o risco de a inflação se transformar num problema intratável, como foi no passado? Pessôa — Há uma recessão forte e um processo inflacionário que tem uma inércia alta. Talvez fosse positivo, o Banco Central mirar em 2018 [como alvo para a inflação convergir para a meta] e fazer uma meta ajustada para 2017. Isso não vai acontecer, e não considero grave que não aconteça. Revista da ESPM — Há algo que o Banco Central poderia fazer de diferen- te para acelerar o crescimento? Pessôa — O Ilan é um cara tão com- petente. Você discordar de um cara com o cabedal dele e daquele comitê que ele formou... É gente que fez MIT, Princeton, Harvard, que já trabalhou no Fed [o banco central america- no], as melhores cabeças que temos. Quando vemum cara e diz “eles estão fazendo tudo errado”, eu penso: “Pô, que cara autoconfiante”. Olha o cur- ríulo de quem está lá. Um pouco de humildade, gente! Revista da ESPM — Qual é a chance de o governo Temer fazer um ajuste fis- cal suficiente emmeio a esta crise? Pessôa — A crise fiscal não é fruto da queda da receita. Ela é estrutural. Se você pegar os últimos 25 anos, o gasto primário da União — gasto real, que exclui juros e é deflacionado pelo IPCA — cresceu, em média, 6% ao ano ou um pouco mais. No mesmo período, o PIB cresceu 3%. Você não pode ter PIB crescendo a 3% e gasto real crescendo a 6%. Parecia que não tinha problema, porque o gasto subia, mas a receita vinha atrás e co- bria. Tínhamos superávit primário e o juro estava caindo. Parecia que estava tudo em ordem. Claro que sa- bíamos que tinha problema. Tanto é que, lá em 2005, o ministro Antonio Palocci, fez um esforço grande para tentar convencer o PT a embarcar num ajuste fiscal de longo prazo. O grupo liderado por Dilma classificou a proposta de rudimentar, e ela foi engavetada. Dilma escondeu o pro- blema da sociedade. Revista da ESPM — Como? Pessôa — Na fase final, partiram para as pedaladas fiscais. Com Refis, pa- gamento de dividendos de estatais para o Tesouro e pedalada fiscal, eles conseguiram empurrar com a barriga por mais quatro anos. A impressão que temos é que se o processo eleito- ral de 2014 durassemais doismeses, a então presidente Dilma não seria ree- leita. Aécio ganharia. No dia seguinte à eleição, ela já começou a falar em arrumar a casa. Só que aí não tinha clima político para isso. Revista da ESPM — A presidente Dil- ma foi destituída por infrações fiscais. Isso é suficiente para acreditar que a Lei de Responsabilidade Fiscal vai ser mais respeitada daqui para frente? latinstock Seoprocessoeleitoral de2014durassemaisdoismeses, Dilmanãoseria reeleita. Aécioganharia.Nodiaseguinteàeleição, ela jácomeçoua falar emarrumar acasa

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