RESPM SET-OUT 2016

globalização Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 20 Hoje, mesmo os países que ganharamcoma escala global de suas exportações, como a Alemanha, encontramresistência da opinião pública para reformas modernizantes, como a domercado de trabalho Há emcursonomundo contemporâneouma crescente configuraçãoemtermos depoder, prosperidade e influên- ciadelineada—alternadamenteemtermosdeconcorrência e interdependência — pelo “G2”: Estados Unidos e China. Muitas críticas foramcorretamente feitas aoBrasil por sua indisposição em buscar mais acordos comerciais e de investimentos comos grandesmercados doOcidente. Esse foi um traço marcante de nossa política externa econômica dos últimos 13 anos. Em tais críticas reside (indireta e esperançosamente) a ideia de que, caso o Bra- sil se decida, as portas ainda estarão abertas para nós. Tempos recentes têm demonstrado, no entanto, que o próprio Ocidente está flertando cada vez mais com o isolacionismo. Não se trata bem de “nacionalismos”, mas de “individualismos nacionais”. E não se trata aqui apenas da retórica protecionista que, por exemplo, impulsiona a candidatura de Donald Trump nos Esta- dos Unidos. Oumesmo das pesadas críticas que Hillary Clinton desfere aos supostos benefícios para os traba- lhadores norte-americanos que resultarão do Tratado Transpacífico. Aumentou demais em tempos recentes a resistência de países europeus a ummega-acordo com os Estados Unidos, a chamada Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês). Na globalização “pré-Queda doMuro”, umamaior inte- gração global sinalizava para benefícios da otimizaçãode competências e custos locais. Issomuda drasticamente quando se agrega a esse quadro a China, que natural- mente absorveu e soubemultiplicar exponencialmente oportunidades industriais quando se abriu aomundo, e o mundo a ela, emfins dos anos 1970. A combinação de globalização profunda com avanço tecnológicodesintegrouoque há umtempo, noOcidente, poderia se chamar de “classe trabalhadora”. Hoje,mesmo aqueles países que ganharamenormemente coma escala global de suas exportações, como França e Alemanha, encontramampla resistência emsuaopiniãopúblicapara reformasmodernizantes, comoadomercadode trabalho. WolfgangMünchau,colunistado Financial Times ,chama esse processo de “vingança dos perdedores da globaliza- ção”, pois asdemocraciasocidentaisnãoestariamlidando habilmentecomosdilacerantesimpactosdoschoqueseco- nômicos advindos de fluxos financeiros agilíssimos e da destruição criadorano campodo trabalho eda tecnologia. Emjunhode2016, duranteumavisitaoficial, eclodiram muitas manifestações na Alemanha contra um comércio global mais livre. Justamente na Alemanha, que até 2009 era a maior exportadora do planeta e que deve tanto ao comérciocomoalavancafundamentaldeseureerguimento pós-SegundaGuerra. E tudo isso enquantoBarackObama eAngelaMerkel traçavam, aomenos no papel, as grandes linhas de uma nova aliança econômica ocidental. Se a globalização ocidental se encontra em xeque, a outra, sinocêntrica, ao menos se move. A China toca adiante o “clã” de instituições plurilaterais (Banco dos Brics, Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura, Fundo da Rota da Seda etc.) por ela liderado. E expande seu perfil como fonte de investimentos estrangeiros diretos e empréstimo governo a governo. Emcontraposição, estásempreàespreitao temordeque a própria saúde econômica chinesa e o desconhecido que habita seu setor financeiro podem levar a China a ter de concentrar-se em seus próprios problemas — e, portanto, projetarmenor poder e influência para o resto domundo. O Brasil teve no passado recente boas oportunidades de conectar-se a um mundo, sobretudo em sua porção

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