RESPM SET-OUT 2016

setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 21 ocidental, mais simpático à interdependência. Hoje, o Ocidente está mais traumatizado com a globalização, e negociações econômicas se dão numnível de abrangên- ciaedetalhe (muitoalémdecomércioe investimento) que o Brasil, honestamente, não está equipado a enfrentar. Quando sair da caverna em que agora se encontra, perceberá que ficou bem mais difícil integrar-se a uma fraturada economia global. O esforço agora terá de abranger muito mais do que diplomacia econômica e ganhar o mesmo grau de urgência de tantas outras adaptações competitivas a que o país tem de se lançar. A importância de adaptar-se à globalização O presente cenário global carrega o potencial de uma inédita e bizarra contradição. Desde que o processo de inovação se tornou motor da prosperidade, possibili- tando o irromper de sucessivas revoluções industriais em torno da máquina a vapor, do método fordista de produção em série, do software e da internet, e agora da computação em nuvem e da economia comparti- lhada, sempre se verificou uma coincidência. O epicentro da economia global — primeiramente o Reino Unido e depois os Estados Unidos — simultane- amente desempenhava o papel de grande defensor do livre comércio. Com a emergência de candidatos como Donald Trump ou Bernie Sanders, salienta-se, ao con- trário, a perigosa fronteira populismo-protecionismo. Se esse binômio vingar, observaremos o curioso fenô- meno daquela que — ainda — é a maior economia global (os Estados Unidos) escondendo-se da globalização. Há exatos 240 anos, o escocês AdamSmith publicava aquele que se tornaria oprimeiro livro clássicode econo- mia, A riqueza das nações , quando sepropôs a examinar a natureza e as causas da riqueza das nações. Especializa- ção, divisãodo trabalho, ambição, propensãoaocomércio epouca intervençãodogovernonos assuntosdomercado são os elementos que a “Mão Invisível” otimiza demodo a permitir um fluxo de riquezas sem precedentes. Qual, enfim, é o fator predominante para a arremetida econô- mica das potências? Muitos consideram o “capital” como a peça central. Contudo, Klaus Schwab, fundador do FórumEconômico deDavos, afirma que o capitalismo já foi substituídopelo “talentismo” como sistema econômico. Damesma forma que vivemos um ciclo do aço ou do microprocessador, o grande diferencial competitivo de empresas e nações residiria em liderar a “Nova Era do Talento”. Outros consideram a intensidade do “trabalho” como grande divisor de águas. Hoje, no entanto, a próspera Ale- manhaéopaís,dentreas20maioreseconomiasdomundo, commenor númerodehoras trabalhadas ao longodoano. Algunsapontamanecessidadedeumpaísexperimentar os horrores da guerra para criar a disciplina necessária à prosperidade. Fosseocaso, aRússia, comseuhistóricode terríveis provaçõesmilitares que confrontounos séculos 19 e 20, seria a naçãomais rica do planeta. Certos “deterministas” discorremsobre a influência do climamais quente como desincentivador à atividade econômica, mas como então explicar o sucesso de Cin- gapura, Hong Kong ou Austrália? Há ainda os que se centram exclusivamente na edu- cação e na ciência. A Argentina, em fins do século 19, construiu belos sistemas de ensino, e ainda assim isso não foi suficiente para estancar sua derrocada ao longo do século seguinte. No início dos anos 1970, a União Soviética tinha a maior populaçãomundial de cientistas, que construíam foguetes capazes de competir na corrida espacial-mili- tar com os Estados Unidos, mas não logravam fabricar um despertador que tocasse na hora ou um fogão que esquentasse a comida. shutterstock

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