RESPM SET-OUT 2016
globalização Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 22 Apontando para a China dos últimos 40 anos, outros ressaltama importânciade umregime forte e autoritário para o crescimento econômico. E,defato,aarremetidachinesa,umdosmaioresmilagres dahistóriadahumanidade,deu-senumcontextosemmar- cosregulatórios,imprensalivre,plenaliberdadedeexpres- são,agênciasreguladoras,referênciascorporativasdecom- plianceoutransparênciaeclaraindependênciadospoderes. Esquecem, contudo, que da RevoluçãoMaoísta de 1949 atéDengXiaopinginiciarreformaseconômicasem1978,a China era igualmente autoritária. Ainda assim, o país não estavaindoalugarnenhumesuarendafiguravaentreasmais baixasdomundo.Numagrandesíntese, oquesepodeafir- maréqueasnaçõessetornammaisprósperasnãoquando evitam, mas quando combinamseus diferenciais compe- titivosde formaaseadaptar exitosamenteàglobalização. Nesse sentido, o Brasil, uma das economias mais fechadas do planeta, temmuito o que aprender e a fazer. O país pode, contudo, estar na contramão dessas ten- dências mais insularizantes que se percebem mesmo emnações tradicionalmente identificadas coma defesa do livre comércio, como é o caso dos Estados Unidos. E isso seria extremamente bem-vindo. Na política bra- sileira, estamos encerrando um ciclo populista-prote- cionista. Isso pode converter-se numa grande vantagem comparativa em termos de negociações comerciais de caráter bi e plurilateral. O imperativo de uma nova estratégia Nofimdo século 16, propagou-se emPortugal uma devo- çãomística à ideia de que D. Sebastião, morto em1578, voltaria aomundo como umnovomessias, conduzindo seu país a mais um ciclo de grandes realizações. Nocasodasabordagensbrasileirasdecomércioexterior e inserção internacional, por vezes, sentimos a presença dessessebastianismoscomoveículomessiânicoparanos- sos problemas de baixa participação nas trocas de bens e serviços globais. Em nossa experiência, essas formu- lações, abraçadas comapego religioso, incorporaram-se sobretudo emnossos dogmas “multilaterais” e na preva- lência das relações político-econômicas “Sul-Sul”. Nadécadade1990,oBrasilcomemorouofimdaRodada Uruguai doAcordoGeral sobre Tarifas eComércio (Gatt, na sigla em inglês) e a criação da Organização Mundial doComércio (OMC) como tábuas de salvação para resol- ver as assimetrias de poderio comercial de diferentes nações. Apenas omultilateralismo poderia pôr empé de igualdade os interesses das economias mais maduras contrastados à agenda do Brasil e dos demais integran- tes domundo emdesenvolvimento. Namesma linha, acrisedosubprimede2008eas agru- ras daEuropamediterrânea em2011 servirampara refor- çara fédequeéno“Sul”das relações internacionaisquese encontraa chavedaprosperidadebrasileira. Tais eventos constituiriamprova cabal dodeclíniodo “Norte”. Hoje, como engessamento (e esvaziamento) da OMC e o início da “grande triagem” dentre os emergentes (fica mais difícil, no que toca ao desempenho econômico, colocar “Chíndia” junto de “Brússia”), o Brasil parece rumar para uma nova crença messiânica. Agora,dadoomalogrodenossasapostasinternacionais e o esfriamento domercado interno, nossos dilemas se resolveriampela adesão a uma dessas novas geometrias de comércio e investimentoque se estãodelineandopelo mundo, como é o caso da Parceria Transpacífico (TPP) ou do AcordoMercosul-União Europeia. Ou seja, nossa crença em soluções mágicas estaria se deslocando dos ícones “multilateralismo” e diplo- macia “Sul-Sul” para o “plurilateralismo” ascendente. É uma ingenuidade achar que tratados internacionais de comércio produzammilagres econômicos. Dito isso, é óbvio que o Brasil ganhariamuito se ade- risse a modalidades de comércio mais livre com Esta- dos Unidos e Europa. Mais importante, no entanto, é o Brasil realizar as reformas internas no campo da logís- tica, da seguridade social, do trabalho e dos tributos que harmonizemsua capacidade internacional de competir, integrando ou não esses regimes plurilaterais. E, claro, ter uma estratégia de inserção internacional em que governo e empresas brasileiras pudessemdar as mãos. No limite, é melhor ter uma estratégia de expansão das exportações e atração de investimentos diretos, sem acordos comerciais, do que contar com eles, mas não dispor de plano nenhumpara expandir nosso perfil econômico internacional. Quando oBrasil sair da caverna em que agora se encontra, perceberá que ficoubemmais difícil integrar-se auma fraturada economia global
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