RESPM SET-OUT 2016

entrevista | José Roberto Mendonça de Barros Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 38 Revista da ESPM — Vivemos a ex- pectativa de retomada econômica com um novo governo e a promessa de uma nova agenda. Mas os velhos problemas estão aí. Qual o seu diagnóstico para os próximos meses? José Roberto Mendonça de Bar- ros — Há um claro sinal de melhora na economia. Até recentemente, o governo era interino. Havia expecta- tivas na passagem de um governo in- terino para um definitivo. Temos um conjunto de indicadores de melhora, depois de um primeiro semestre negativo. Em um segundo período, o PIB vai parar de cair. Para o fim do ano, e daí para adiante, haverá al- guma melhora ou crescimento. Boa parte dos indicadores está atrelada a expectativas e o que temos observa- do são boas expectativas no comér- cio, nos serviços, na construção e no consumo também. Mas é razoável dizer que a maior parte de tudo isso ainda está no reino da perspectiva. Parte dos indicadores mostra me- lhora, como na produção industrial e nos investimentos. De todos, o indicador de investimentos é o mais importante. Ele é calculado de tri- mestre a trimestre, pela absorção de bens de capital: produção doméstica, menos exportação, mais importação e construção civil, entre outros. O in- dicador de investimentos já está no positivo no segundo semestre, isso é visível pela inversão das expectati- vas negativas. Revista da ESPM — O senhor faz um prognóstico de 2% de crescimento do PIB para 2017, contrariando a visão mais pessimista de muitos eco- nomistas. Em que base chegaremos a esse resultado? Mendonça de Barros — Primeiro, no nível de investimentos, como eu mencionei antes. Essa melhora de investimentos se deve em parte a um movimento cíclico. Podemos ver isso no mercado imobiliário. Embora alguns construtores não estejam in- vestindo, há outros lançando prédios. No ano que vem teremos mais lan- çamentos. A despeito de que alguns compradores estejam entregando apartamentos, por dificuldade de pagamento, há pedidos de análise à nossa consultoria para novos empre- endimentos. Isso podemos constatar tambémemoutros segmentos. Revista da ESPM — Seria a mesma lógica de que, quando cai a venda de carros novos, em algum momento, a procura necessariamente aumenta pela necessidade de renovação por parte dos compradores? Mendonça de Barros — O automó- vel é um bom exemplo. Neste ano, o mercado pode estar estagnado, pati- nando, mas no ano que vemas vendas serão positivas, coma diminuição dos estoques existentes. Em relação aos investimentos, podemos apontar três indicadores de negócios. Umprimeiro está na área do petróleo. A Petrobras está numa crise gigantesca, deu uma freada, mas já conseguiu desatar seus investimentos, principalmente na área do pré-sal, e vai gastar mais. Além disso, o Congresso aprovou o projeto de lei que desobriga a Petro- bras de investir até 30% em todos os blocos de exploração. Isso vai permitir que a Agência Nacional do Petróleo faça uma rodada de leilão de novos campos, por volta de maio de 2017. Com a coisa menos restritiva, existe competição para vários projetos. Isso pode movimentar a Petrobras, com o setor privado fornecendo equipamen- tos. Na Petrobras tudo émuito grande, é umsetor emque não se senta àmesa semque seja para tratar de, aomenos, US$ 1 bilhão. Revista da ESPM — Quais são as ou- tras áreas de retomada? Mendonça de Barros — O mesmo deve acontecer nas concessões. Vá- rias estão em andamento. Por exem- plo, na área de aeroportos, com dois ou três projetos de concessão [ o gover- no posteriormente anunciou planos de concessão de quatro, em Porto Alegre, Florianópolis, Salvador e Fortaleza ]. Ainda resta a prorrogação de con- cessões com nova rodada de inves- timentos. Por isso, é razoável supor que estamos em fase de retomada de investimentos, com perspectiva de crescimento de 2% no ano que vem. Revista da ESPM — Há mais fatores que podem influenciar positivamente a economia no ano que vem? Mendonça de Barros — Tenho três pontos ainda a observar em termos de investimento. Primeiro: o agrone- A Petrobras está numa crise gigantesca, deu uma freada, mas já conseguiu desatar seus investimentos, principalmente na área do pré-sal, e vai gastar mais

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