RESPM SET-OUT 2016

setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 39 gócio é um setor que vai muito bem, apenas tropeçou um pouco por causa do clima. A seca tirou 20 milhões de toneladas de grãos e 20 milhões de toneladas de cana da produção de açúcar e álcool. O segundo trimestre foi negativo, mas o setor está num pi- que muito bom e vai aumentar a área cultivada em 2017. Basta o clima ficar normal e teremos 3% de crescimento no segmento. Mesmo que o setor não pese tanto no PIB, a cadeia produti- va do agronegócio é um puxador de negócios. O segundo fator é o mer- cado externo. O fluxo de exportação e importação deve ter crescimento menor do que no agronegócio, já que o câmbio está um pouco valorizado, mas o panorama é positivo. Um últi- mo ponto: embora o desemprego só vá melhorar lentamente ao longo do ano, as expectativas melhoraram. Alguns consumidores voltam ao mercado, como é o caso dos automóveis. Mui- tos deixaram de comprar carro, não porque não tivessem dinheiro, mas porque o horizonte político era muito incerto. Avaliando esses quatro ele- mentos — investimentos, agronegócio, comércio exterior e consumo —, não é fora de propósito supor que haverá 2% de crescimento no ano que vem. Revista da ESPM — Em sua avalia- ção, como fica o tripé econômico de inflação, juros e câmbio em 2017? Mendonça de Barros — Primeiro, a inflação está caindo. Basta ver as projeções do Banco Central. Apesar da recessão dos dois últimos anos, ti- vemos um componente meio autôno- mo, que foi o choque de oferta. No ano passado, os vilões forama energia elé- trica, com mais de 50% de ajuste, e o combustível. Mas a eletricidade, sem dúvida, pesou mais que outros fato- res, porque não dá para desligar a luz em casa, nas indústrias e no comér- cio. O grande componente do choque da inflação deveu-se aos preços admi- nistrados. Este ano, o clima, apesar de aumento de área cultivada, provocou quedas acentuadas de produção. Au- mentaram os preços do feijão, arroz, leite, milho e derivados. Subiram, e subirammuito. Um frio muito grande no mês de junho fez subir os preços dos produtos hortifrutigranjeiros da feira. Os produtos alimentares subi- ram em torno de 20% em 12 meses. Reverter o choque de oferta ajuda no combate à inflação, para que ela continue caindo. Se olharmos para frente, vemos que a conta da eletrici- dade está diminuindo, o aumento vai ficando para trás. Alguns reajustes na luz foram até negativos. Se o clima permanecer normal, muitos produtos da mesa, como leite, feijão, verduras e outros, terão os preços reduzidos, e isso influi nos índices de inflação. Outro exemplo é o do aluguel. Muitos reajustes estão sendo feitos abaixo da inflação. Na conta geral, neste ano a inflação chegará a 7,2%. No ano que vempode cair para 5% ou 4,5%. Revista da ESPM — Dá, portanto, para chegar à meta de 4,5% do Banco Central? Mendonça de Barros — Dá, sim. O Banco Central (BC) está exces- sivamente duro, ambicioso com essa meta. Se a meta de 4,5% fosse marcada para janeiro de 2018, mais cedo a meta seria alcançada. Mas o Banco Central marca a meta para dezembro, com consequências para o ano inteiro. A vantagem dessa fle- xibilidade é a de que aliviaria a situ- ação da economia. Com a meta mais rígida do BC, mais empresas poderão fechar ou procurar recuperação ju- dicial. Com isso, o desemprego não shutterstock Ofluxodeexportaçãoe importaçãodeve ter crescimentomenor doqueno agronegócio, jáqueocâmbioestáumpoucovalorizado,masopanoramaépositivo

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