RESPM SET-OUT 2016
entrevista | José Roberto Mendonça de Barros Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 40 vai melhorar tão cedo. Há muitas empresas bagunçadas financeira- mente e, com essa meta tão rígida, terão dificuldades na recuperação, o que dificulta o emprego. Empresa em recuperação, dentro da minha experiência, dificilmente emprega; pelo contrário, elimina postos de trabalho. Depois vai lentamente reintegrando os quadros. Revista da ESPM — E as perspectivas de câmbio e juros? Mendonça de Barros — O câmbio, com esse juro alto, está caminhan- do para R$ 3 por US$ 1. Com o gover- no agora definitivo, muita gente no exterior tem confiança em mandar dinheiro para cá, investindo, seja em aplicações financeiras, seja na compra de empresas. Outra coisa: até 31 de outubro vai o prazo de repatriação de capitais ao país para quem tem dinheiro lá fora e quer regularizá-lo aqui pagando o impos- to pedido. Isso provoca a entrada de dólares, fato que pode ajudar no combate à inflação, mas é ruim para o exportador. Espero que esse efeito do câmbio seja temporário. Toda a história deste ano está na parte fis- cal. Tudo está pendurado em torno do ajuste das contas e no que vai ser aprovado pelo Congresso. Essas decisões terão impacto no resultado fiscal deste ano e do ano que vem. O novo governo tem de mostrar serviço. Até agora, foi muito condes- cendente com as pressões, porque era um governo interino e muitas soluções foram postergadas. Agora vai ser o teste do pudim... Revista da ESPM — O senhor se po- siciona como um otimista. O governo sinaliza que poderá adiar algumas re- formas. Isso não é preocupante? Mendonça de Barros — Sou razoa- velmente otimista, sei que não have- rá uma reforma gigantesca, não há tempo para construir projetos e ob- ter consenso. Foi falado mais de uma vez que o presidente Michel Temer é o terceiro do PMDB que assume a presidência pós-democratização, em condições inesperadas. Primeiro José Sarney, depois Itamar Franco e agora Temer. A história mostra que nesse tempo foram tentados dois ca- minhos bem diferentes. O cruzado, com Sarney, deu errado. Entregou o país com uma democracia funcio- nando, mas com uma crise econô- mica gigantesca. O governo Itamar recebeu uma economia conturbada na era pós-Collor. Hesitou no come- ço, trocou três ministros da Fazenda e, no final das contas, enfrentou de maneira satisfatória a crise e passou para a história como bem-sucedido. É óbvio que o presidente Temer tem de escolher entre essas duas alter- nativas. Acredito que ele fará, por ter uma equipe que o suporte, uma ação mais incisiva em relação a algumas reformas. A questão é quais serão essas reformas e como elas deverão ser feitas. Revista da ESPM — Alguma pista? Mendonça de Barros — Imagino o que vai acontecer: o ponto central está na Proposta de Emenda Cons- titucional [PEC] da contenção de gastos. Isso ele já conseguiu aprovar na Câmara. Eu trabalhei só uma vez no serviço público, foi no primeiro governo de Fernando Henrique Car- doso [de 1995 a 1998] e apreendi algo logo que entrei no governo. Naquele momento se discutia quais reformas constitucionais seriam feitas. O Fernando Henrique dizia que o pre- wikimedia commons ComJoséSarney, ocruzadodeuerradoeeleentregouopaíscomumademocracia funcionandoeumacriseeconômicagigantesca
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx