RESPM SET-OUT 2016

setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 41 sidente eleito tinha alguma força no início, mas não dava para fazer tudo. Era preciso fazer escolhas. Duas ou três coisas você tem chances de conseguir. A questão se aplica aos dias de hoje. Uma das três coisas é a contenção de gastos. É óbvio, entre os consultores e pessoas que conhe- ço, que essa PEC será aprovada nas duas rodadas da Câmara e nas duas rodadas do Senado. É também óbvio que deverá haver algumas flexibili- dades nesse processo. Como nos 20 anos de prazo, que provavelmente será menor. Essa é a primeira coisa. Revista da ESPM — Quais serão as outras reformas? Mendonça de Barros — A segunda do cardápio é a idade mínima da aposentadoria. Acredito que ela será apresentada, mas não será votado um projeto completo. É coisa difícil. Essa idade mínima de 65 anos tem chances de ser aprovada e é razoável. A terceira coisa: na legislação traba- lhista, provavelmente duas propostas poderão ser aprovadas. Aquilo que é negociado entre as partes prevalece. É preciso esclarecer melhor a questão da terceirização, em outros termos, e entrar na discussão sobre diferentes formas de contrato de trabalho. Essas são as três coisas: limite de gastos, Previdência e questões trabalhistas. Fora isso, o quarto fator é o estímulo aos investimentos. O fato é que a PEC do teto de gastos tem de ser aprovada este ano. Na reforma da Previdência, tenho dúvidas se será aprovada agora. Esse conjunto e mais algumas coisas ligadas à construção e às concessões têm chances de ir adiante. É essa a razão para ser otimista. O governo é definitivo, o pacote tem de ser apro- vado. As expectativas serão validadas por investimento externo, agricultura e algum aumento de consumo. Por mim, elas desenham um cenário de 2% de crescimento em2017. Revista da ESPM — O empresaria- do se mostra otimista com a troca de governo e prevê alguma recuperação econômica. A grande dúvida está na velocidade. São mais claras as chances de retomada no agronegócio e na in- fraestrutura. Mas na indústria a si- tuação é mais complicada. Mesmo com a recuperação, a capacidade ociosa é imensa, por isso permanece a incerteza de quando esses investimentos vão ser resgatados tendo em vista o alto índice de desemprego, a pressão da inflação e do consumo achatado das famílias. Como o governo pode ajudar a acelerar os investimentos privados? Mendonça de Barros — Você ressal- tou um fato relevante: imensa capaci- dade ociosa de produção da indústria. Em média, não vamos ter muitos investimentos aí. O investimento vai ser uma exceção, não ummovimento geral. Ocupar a mão de obra ociosa e reduzir estoques serão os primeiros passos. Como a indústria é muito am- pla no Brasil, em alguns segmentos podemos ver alguma coisa aconte- cendo. Quando se está pensando em desenvolvimento industrial, pensa-se em novas fábricas. Mas temmuito in- vestimento oculto, porque você pode usar os mesmos equipamentos e ter relançamento de produtos oumudan- ças marginais em produtos existen- tes. Isso, de fato, vamos ter. Na indús- tria, por outro lado, há uma atividade muito intensa de aquisições. Nesse cenário, há empresas muito fragiliza- das, porém boas. Há gente commuito recurso lá fora, multinacionais, ou nacionais que passaram bem pela crise e que agora buscam aquisições. Todo dia tem notícia de uma empresa X comprando a empresa Y. Revista da ESPM — Os valores des- sas transações têm sido menores, mas constantes. Mendonça de Barros — Sim, peque- nos, mas constantes e estão cres- cendo. Sempre que uma empresa é comprada, há uma reorganização e umpasso para frente. Há uma sequela da crise que está acontecendo, mas é difícil de ser vista. Essa situação recente mostra o seguinte: o Tesouro quebrou, e quebrou mesmo, não é for- ça de expressão. Não adianta pedir do governo algum favor fiscal, dinheiro, porque não tem. Acabou. Mesmo que quisesse, não tem. Isso significa que o setor industrial tem de mudar sua maneira de trabalhar, precisa prestar mais atenção na produtividade do que antes. Produtividade emvista, en- carando uma capacidade de mão de obra muito baixa. Você pode ganhar muita coisa de produtividade, sem maiores construções na indústria, sem nova fábrica. Um exemplo pode A indústria temde se reinventar. É o desafio das lideranças empresariais. Elas deixaramde exercer a liderança para comprar no shopping do governo federal: eu quero isso, eu quero aquilo...

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx