RESPM SET-OUT 2016

entrevista | José Roberto Mendonça de Barros Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 42 ser dado pelas consultorias com pe- didos de projetos de automação. Elas estão com o máximo de atividade ocupada. Isto não é visto pelos dados do IBGE, porque não tem a captação dessas informações, mas é preciso olhar lá dentro da empresa e ver o que está acontecendo. Podemos trazer o exemplo do petróleo, porque vai pre- cisar de investimentos, de alta capaci- dade demobilizar obras e equipamen- tos. Se muitos projetos do petróleo forem ativados, e de modo eficiente, será necessário muito investimento emautomação, alémde outros. Revista da ESPM — Chegou a hora de a indústria mudar o discurso? Mendonça de Barros — Vários seg- mentos têmcapacidade ociosa e estão relativamente atrapalhados, sem saber para que lado vão. A Associa- ção dos Fabricantes de Máquinas (Abimaq) fez recentemente pedidos para uma lista de favores antigos: perdão de dívida tributária, financia- mento por 20 anos etc., cuja chance de sair é zero. Não dá. As empresas têm de entender que o momento é dife- rente. Se olharmos os bens de capital, verificaremos que a agricultura está precisando deles, que a energia elétri- ca precisa se atualizar, se expandir. Mas grandes investimentos no setor industrial vão acontecer aos poucos. Revista da ESPM — A primeira via- gem oficial do presidente Temer foi à China e o chanceler José Serra aprovei- tou a ocasião para dizer que é folclore o discurso de que a economia brasileira é fechada, uma afirmação no mínimo questionável. O senhor veria sinais mais otimistas de conversações bilaterais com o Mercosul e Europa, por exemplo? Mendonça de Barros — Não sei avaliar o grau de êxito. Qualquer negociação com a Europa vem num momento de novo governo no Brasil e na Argentina. A Europa queria a negociação lá atrás, mas Cristina Kirchner e Dilma Rousseff jamais quiseram um acordo. Agora o gover- no Temer quer, mas a Europa está enrolada. Duvido que ela esteja disposta. A saída da Inglaterra do bloco europeu tem tomado todas as atenções. Algumas coisas que deve- riam estar ocorrendo não vão para frente por falta de oportunidades. Mas há outros acordos comerciais, onde podemos avançar. Há negócios ambiciosos com o México, com os próprios Estados Unidos, com a área asiática, com a África. No entanto, não sou capaz de avaliar qual o grau de sucesso nesses dois anos e meio. O tempo é curto. Temos atualmente mais negociações com o Peru, a Co- lômbia e os países da Aliança do Pa- cífico. Poderíamos fazer muito mais coisas, lembrando a leitura da revis- ta The Economist de um ano e meio atrás. Se o acordo de paz entre Farc e o governo colombiano conseguir superar a questão de segurança, a Colômbia pode dar grandes saltos, e até ultrapassar a Argentina. No momento, há várias empresas co- lombianas operando no Brasil. Revista da ESPM — Como fica a re- lação com a Argentina e paralelamente com os Estados Unidos, dois países que reconheceram o governo Temer, mas sem grande ênfase? As posições tanto do presidente Barack Obama, às voltas com eleições, e de Maurício Macri, em crise com os sindicatos, foram discretas em relação ao novo governo brasileiro. Mendonça de Barros — Reconhecer com cautela faz parte da diplomacia, especialmente quando o PT e o anti- go governo acionaram as relações in- ternacionais contra o novo governo, como é o caso dos governos boliva- rianos. Cautela e moderação fazem parte da natureza diplomática. Com os Estados Unidos, muita coisa pode avançar, o mercado é muito grande e relativamente aberto. Muita coisa pode ser conversada deixando-se de lado razões ideológicas. As vendas poderiam aumentar. Revista da ESPM — Como fica nossa relação com a Argentina? Mendonça de Barros — Macri ga- nhou as eleições, tem poder estável; no Brasil o governo é de transição. Na Argentina, Macri fez duas coisas importantes: destampou o dólar com sucesso. Estabilizou o dólar em torno de 16, não gerou hiperinflação, que lá é coisa delicadíssima, pois a Argen- tina teve duas hiperinflações. Ele fez tão bem-feito, que ninguém percebeu a mudança de 12 para 16 pesos. Nego- ciou também com os fundos abutres, depois de uma disputa dura e áspera, que não saía do lugar. Isso reabriu o Um segmento de sucesso é o agronegócio, que se tornou modelo de inovação e aumento de produtividade. Está aberto à competitividade no exterior

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