RESPM SET-OUT 2016
setembro/outubrode 2016| RevistadaESPM 43 mercado internacional. Como heran- ça do governo anterior a superar, era condição necessária para a Argenti- na. Mas isso não foi suficiente para a Argentina voltar a crescer, o que é importante para validar qualquer governo. Por queMacri não conseguiu isso? Primeiro, porque ao destampar o dólar e começar a colocar os preços e tarifas no seu devido lugar, a infla- ção subiu. A projeção é de 35%, bem alta, brutal. Com tudo isso, ocorreu um negócio curioso. Não dá para dei- xar entrar muito dólar, porque mexe com a base monetária e pressiona a inflação. Isso veio provocar a restri- ção cambial. Aqui, no Brasil, não há o mesmo problema. Entre reservas e deficit corrente não falta moeda. Os argentinos não conseguem isso. Eles têm de controlar as importações, o que gera conflitos com vários países, incluindo o Brasil. Eles não conse- guem ainda ter a vantagem de haver acertado a restrição externa. Segun- do, Cristina Kirchner deixou um de- ficit fiscal muito grande. Ela segurou o preço de tarifas por muito tempo. Quando se destampou a questão, o deficit se multipicou por três. Mesmo no Brasil, a tarifa defasada em 50% da energia elétrica trouxe problemas, um choque para a economia. Macri teve de trabalhar muito na frente in- terna. Não está podendo fazer muita movimentação nesse lado. Por isso, a situação é de cautela. Revista da ESPM — O que o Brasil pode fazer para abrir novas oportunida- des com seus principais parceiros? Mendonça de Barros — O Brasil, nessa parte externa, tem de trazer de volta uma coisa que, por ideologia, o governo anterior limitou: o Brasil é um global trader . Nós produzimos uma gama muito variada de itens e nego- ciamos com o mundo inteiro. Temos de ser agnósticos. Negócio é negócio, desde que seja legal, obviamente. Temos muita coisa no Oriente Médio, na África, na Ásia, na América Latina. O mais importante é uma visão ge- ral, evitando razões ideológicas para negociar com os Estados Unidos ou qualquer outro país. Ampliar os rela- cionamentos. Às vezes são as ações menos glamorosas que importam. Como ter acesso a novos mercados com ações específicas, tipo defesa sanitária e o cumprimento de certos regulamentos. Nessa parte não tenho receios de que o Brasil avança. Revista da ESPM — Voltando ao tema da produtividade na indústria, que co- bra mecanismos de proteção em vários segmentos. Na cadeia de produção te- mos uma dependência muito grande de importados e as políticas protecionistas foram criando enormes distorções. Não adianta proteger o fabricante se uma base importante da matéria-prima está sobretaxada. Não adianta ter câmbio desvalorizado se os custos estão atrela- dos à economia global. Mendonça de Barros — Tem muito ainda que acertar. Primeiro, tem essa pauta de política tarifária, que não faz sentido econômico. Elamostra a força do lobby para defender seu segmen- to. Uma vez estive fazendo palestra numa associação de máquinas agrí- colas. Todo mundo se queixando. Per- guntei: vocês gostariam de importar mais aço? Como fica a tarifa de pro- teção dos produtores nacionais? Essa estrutura tarifária temmuita coisa er- rada, como na indústria química. Pre- cisa haver maior abertura mesmo. A indústria está vivendo uma das maio- res crises dos últimos tempos, com latinstock ItamarFranco(àdir.)recebeuumaeconomiaconturbadanaerapós-Collor.Hesitouno começo,trocoutrêsministrosdaFazendaepassouparaahistóriacomobem-sucedido
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