RESPM SET-OUT 2016
entrevista | José Roberto Mendonça de Barros Revista da ESPM | setembro/outubrode 2016 44 a produção aquém daquela de 2008. Uma recessão sem precedentes, uma quebradeira. Isso depois que o Brasil cresceu e o Tesouro deu dinheiro a rodo, onde todos os instrumentos de política industrial estiveram à dispo- sição: incentivos fiscais, dispositivos antidumping etc. Alguma coisa está errada. Um segmento de sucesso é o agronegócio, que se tornoumodelo de inovação e aumento de produtivida- de. Está aberto à competitividade no exterior. Ou seja, a indústria tem de se reinventar. É o desafio das lideran- ças empresariais. Elas deixaram de exercer a liderança para comprar no shopping do governo federal: eu quero isso, eu quero aquilo. Internamente, qual é o modelo a seguir? Enfrentar os conflitos internos, vender o mais alto possível, procurar o preço do aço mais baixo. Não deixar para o gover- no resolver tudo. Esse é o desafio da indústria, hoje. Ela está preparada? Não sei. Revista da ESPM — O PT e o governo Dilma baterammuito na tecla da queda do preço das commodities no mercado internacional como vilão da crise. Qual a sua visão de médio prazo para as com- modities agrícolas e minerais? Mendonça de Barros — Temos muita expectativa na agricultura. Quero destacar duas coisas: a China resolveu importar e baratear internamente os alimentos para atender o poder de compra dos assalariados. Para isso, está investindo muito na compra de empresas de consumo e companhias de trading no mundo inteiro para garantir o mercado interno. Nesse en- tretempo, os preços dos grãos caíram no mercado internacional, porque os americanos terão uma safra enorme, mas namédia os preços sãomuito dís- pares no conjunto e nós achamos que assim vai continuar. Além disso, tem outros países da Ásia, cuja demanda é ascendente. Sou francamente favo- rável à expansão agrícola. Com tecno- logia, temos condições de fornecer e o Brasil é competitivo. Em minerais, como na cadeia do aço, o balanço não é positivo, também por causa da Chi- na. Eles estão parando de investir na infraestrutura e na construção. Com menos necessidade de aço, querem menos minério. Somos mais céticos em relação à cadeia de ferro e aço. Em outros minérios, como o alumínio, não temos uma visão positiva. O alu- mínio é basicamente energia elétrica e com os preços atuais isso mata a ca- deia. Para a maior parte dos processa- dores, não vejo cenáriomuitopositivo. Revista da ESPM — Falando como consultor, como vai a saúde das empre- sas no Brasil? Mendonça de Barros — No mun- do das empresas em geral, temos ganhadores em todo esse processo pelo qual estamos passando. Eu vejo cinco grupos de empresas que são claramente ganhadores. O primei- ro compreende algumas empresas nacionais, não muitas, que foram capazes de desenvolver planos estra- tégicos bem montados e com muita disciplina de capital. Nunca ficaram devendo demais. Três exemplos conhecidos de companhias abertas: Embraer, Ultra e Renner, com perfis muito diferentes. O segundo grupo silencioso é composto de empresas internacionais. São companhias que estão há anos no país, não vão sair e têm acesso a capital a custo muito baixo. Têm tecnologia e governança. Essas empresas estão se expandindo e adquirindo outras. Emesmo dentro de certas disputas, como no setor automotivo, onde as japonesas e coreanas estão concorrendo com as mais antigas aqui estabelecidas, o saldo é positivo. Essa disputa está se desenvolvendo em cima de projetos novos, com bons investimentos. O terceiro grupo ganhador é o agrone- gócio, desde que as empresas não estejam muito alavancadas. Neste país, quem alavanca demais perde. Com esses juros reais altos, quem entra na recessão acaba devendo muito, se por acaso estava expandin- do. De repente o fôlego acaba e não dámais. Mas isso não temnada a ver com a qualidade da companhia. Revista da ESPM — Que outros gru- pos estão indo bem? Mendonça de Barros — O quarto grupo é formado por empresas mé- dias, que devempouco e conseguiram enxugar, estão atravessando a crise com dignidade e prontas para voltar a crescer. O quinto e último grupo que começa a ter massa crítica nasceu de startups, encubadas ou não, commui- ta concentração em TI. A chave aqui Neste país, quemalavanca demais perde. Comesses juros reais altos, quementra na recessão acaba devendomuito, se por acaso estava expandindo. De repente o fôlego acaba e não dámais
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