RESPM ABR_MAI_JUN 2017
Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 108 Oartista e o estágio industrial Quatroanosantesde fundaraDPZPropagandacomFrancescPetit e JoséZaragoza (foto),Roberto Duailibi, entãoredatordaStandard, jáescreviaresumoscríticos sobreopapel dosartistasna publicidade.Esteartigo, publicadonoSuplementoLiteráriodo jornal OEstadodeS.Paulo de 21demarçode1964, desenhaumpanoramadocenárioque,mais tarde, viriaacriarumarevolução napropagandabrasileira, pelavalorizaçãodacriação.Otextotem53anosecontinuaatual Por RobertoDuailibi arte E m Matéria de Memória (Companhia das Letras, 1962), Carlos Heitor Cony obriga o seu persona- gem, Tino, umpintor, asubmeter-seàEra Indus- trial,apóspassaranosresistindoaisso.Abandona a pintura e se emprega numa tecelagem, onde desenharia estampados.AresistênciadeTino,duranteosdurosanosde pintura, é a expressão do preconceito do artista contra um suposto abastardamento de sua arte, quando empregada emsentido utilitário. Embora apresentada como uma solu- ção para a sua vida incerta, há, emsua renúncia final, uma ocultacríticaao“conformismo”dealgunsartistas,quebus- camorecurso“imediato”desobrevivência.Hátambémuma críticaàsociedadeindustrial,queosseduzeacabaporabsor- vê-los.Casandooseupersonagemcomaempregada,oautor pretendeuqueoartista, humildemente, retomasse contato comomundoreal,mas,talvezinconscientemente,issonão deixoudesignificarumatotalquedade“status”:oartistadesce desua fontedemarfim, eparaalguns issoé insuportável. Inútilvoltar-seadiscutirse,agindoassim,oartistaestáou nãoseabastardando.Oassuntoésuperado.MasTinorepre- sentaopensamentoeassuperstiçõesdageraçãodeartistas queparticiparamdoiníciodomovimentoindustrialnopaís. Paraeles,aindústriaeascoisasqueproduzsãorepugnantes. É significativo que a geração atual de artistas, aquela em cuja formaçãocultural jáexistiaapresença, de formapode- rosa, da indústria, tenha herdado pouco daquelas supersti- ções—oujáastenharepudiadototalmente.Éclaroqueainda encontramos pintores a quemhorroriza imaginar-se dese- nhandoprodutosouanúncios.Masamaioria,parece-me,não encaraessaintegraçãoarte-indústria,respeitadososlimites dacriaçãoindividual,comoumarenúncia.Paraeles,aindús- trianãosignifica, por si sóe a priori , umsinônimodecoisas utilitárias semnenhumromantismoou intelectualidade. Insuportável,naverdade,épretender-sequeoartista,para serartista,devapassarfome,vendendoseusquadrosapenas devezemquando. Contudo, essa geração compreende que o artista não se devesubmeteràopiniãoleigaetodo-poderosadosdonosda indústria.Nisso,tempontosdecontatocomageraçãoanterior. Compreendendo tambémquenãopodeprescindirda reali- dadesocial,nãoapenasune-seàindústria,masprocura,no queserefereàscomunicaçõesvisuais,dirigirasuaprodução. Quemdependedequem?Éevidentequea indústria sem oartistapode sobreviver,mas éevidente tambémque, con- tinuando a fabricar produtos cujo aspecto exterior seja de mau gosto, limitará a expansão de seumercado, expansão essamotivadaessencialmentepelasnovidades.Continuará vendendo,mas emescalamenor. Industriais conscientes— talvez não tanto os pioneiros, mas os seus filhos e gerentes —compreendemqueumadasboasatitudesdemercadoépro- piciaroaparecimentodenovasformasparaagasalharosaper- feiçoamentosmecânicos e comunicar aqueles que o veem, aideiadeprogresso.Isso,especialmente,noqueserefereao desenho industrial, sóagoraestásedesenvolvendonopaís. Decertaforma,começamosbem.Aquioartistainicioutra- balhandoporcontaprópria,nãotendosidoabsorvido,como empregado,pelaempresa.Trabalhandocomoempregado,o artista,aísim,desaparece.Ficasubmetido,hierarquicamente, àopiniãodecomitês—ediz-seque“ocameloéumcavalonas- cido numa reunião de planejamento”: funciona, mas é hor- rível.Temosumcasodessesnopaís:aexperiência,atécerto pontofracassada,deumadeterminadamarcadeautomóvel. Aliás,numfilmequefoiexibidoemtodooBrasil,via-seque, dapranchetadosdesenhistas,ocarronasceubonito,mas,a cadaintromissãodosdiretores,iapiorandoseudesenhoaté transformar-senoqueaí está.
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