RESPM ABR_MAI_JUN 2017

arte Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 110 Jáumaindústriabrasileira—queorientadezenasdetece- lagens—vemutilizandoartistasplásticosparaaproduçãode estampados.LivioAbramo,DjaniradaMottaeSilva,Heitor dosPrazeres,LuigiZanotto,AlfredoVolpi,MiltonDacosta, AntonioBandeira,RobertoBurleMarx,DaniloDiPrete,Loio- PérsioNavarroVieira deMagalhães,Maria LeontinaMen- des Franco da Costa, Lula Cardoso Ayres, ManabuMabe, Carybé,RubemValentim,IberêCamargo,FaygaOstrower, Ivan Serpa, Aldemir Martins, entre outros, já podem ver passarpelasruas,emvestidos,osseustrabalhos.Nãovivem exclusivamentedessetrabalho,masnãohádúvidadequea contribuiçãoestimularáoutrosartistas—independentesou não—aencarar esse tipodeserviçocommenosdesprezo. Atingida, nopaís, uma certa época dodesenvolvimento industrial,oartistapodetornar-seindependentee,semcon- cessões,sugeriroqueaindústriadeveproduzir.Apresença dobomgostonodesenhoindustrial,determinadaporartis- tasearquitetosdesólidaformaçãoenãoporrapazinhossaí- dosdaEscoladeBelas-Artesouporaquelesqueapenas“têm jeitoparaacoisa”,acabaráimpondoumalinhageraldealto nível—libertandoosprodutosdosfrisoscromadoseoutros acessóriostãocultivadoseestimuladospeloschefesdeven- das, quesemprealegamconhecer “oqueopúblicogosta”. Neste ponto, é interessante saber a filosofia que orienta umestúdioqueune,sobomesmoteto,trêsartistasgráficos: JoséZaragoza,FrancescPetiteAlbertoChust.Fundaram,há quasedoisanos,umestúdiocomoobjetivodeoperartodos os campos onde se exerce a comunicação visual: desenho deprodutos,embalagens,projetoseconstruçõesde“stands” evitrines,anúnciosdeimprensa,folhetos,cartazesderua, desenhos de produção de filmes e comerciais de televisão, diagramaçãoe ilustraçãode revistase jornais. Achameles que os recursos de comunicação visual não devemunicamente acompanhar o gosto dasmassas, mas simprecedê-loseorientá-los.Acreditamque,aoartista,cabe educarogostodopúblico.Concordamqueasexperimenta- çõesservemaumaminoriaestudiosaqueàsvezesguarda, duranteanos,assuasconclusões,quandoocertoseriadivul- gar essasconclusõesembenefíciode todos. É desonesto — ou sem talento — aquele artista que, ten- tando justificar sua produçãomedíocre emcomunicação àsmassas,alega,comooschefesdevendas,que“édistoque opovogosta”. Estaatitude, sim, representauma renúnciaà principal funçãodoartistadentrodeuma sociedade, queé adquirirnovosemaioresconhecimentosparatransmiti-los numsentidoeducativo—aplicá-los, enfim, paraamelhoria dospadrõesde julgamentoedavidadeseus semelhantes. Àprimeiravista,essascoisasparecemseróbviasdemais, masnãodevemosesquecerdequeháresistênciaàsuaado- ção.Semumaaçãopositiva,estaríamosaindafazendocomu- nicação emmassa nos mesmos padrões de 20 anos atrás. Emboradentrodasagênciasdepropagandaexistammuitos artistasquebuscamaplicarnovasformas,osclientesedonos de agências precisam saber que há pessoas fazendo algo para, sóentão, seconvenceremdequeaaplicaçãoéválida. Metro3—oestúdioreferido—buscatransformar-se,assim, numquaselaboratóriodepesquisas.Segundoumdosartistas componentesdogrupo,seudesejoseriatransformá-lo,com odesenvolvimento, numaespéciede “Bauhaus” brasileira. Quandosedizqueoartistanãodeseja fazerconcessões, imagina-se logoumsujeito temperamental que se recusaa admitircertas“realidades”.Naverdade,oexcessodetempe- ramentorevelaumdesconhecimentonãosódosobjetivos, mas às vezes tambémdos recursos ao seu alcance. Assim, aplicada gratuitamente, a arte certamente falhará, como todas as outras generalidades. Mas umdos grandes méri- tos dessa geração é conhecer profundamente os objetivos de cada umdos trabalhos que lhes são solicitados. Não só isso:graçasaosconhecimentosadquiridosemoutrosramos alémda arte,muitas vezes discutemempé de igualdade, e geralmentecomvantagem,comeconomistaseplanejadores decampanhas,sobreosverdadeirosobjetivosaseatingir.É dentrodelaqueaplicarãooseutalento,dirigindoomáximo derecursosemdireçãofixadaanteriormenteecomprecisão. Porquejáétempodeoartista,apardecontinuarnocampo experimental,passarparaoprático,queéonde,idealmente, oprimeirotemoportunidadedesedesenvolver.Claro,nin- guémexigequeaartesejaexecutadasópara isso. Enemse exigequeoartistapensesempreno ladopráticodaarte; há deseconsiderarque isso independeexclusivamentedele. Consideramessesartistasquesuasmaioresoportunidades comorealizaçãopessoalpossamserencontradaspormeio dapropaganda.Oartistaque, peloestudo, desejaaplicaros seus achados e os dos outros encontra aqui ocasião de se expressare,pelapráticadiária,continuarsedesenvolvendo. Édesonesto – ou semtalento – o artista que, tentando justificar suaprodução medíocre, alega, como os chefes de vendas, que “é disto que o povo gosta”

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