RESPM ABR_MAI_JUN 2017
ponto de vista Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 114 HelioMattar Obem-estar, afelicidadeeoconsumo O queproporciona felicidadeparaumapessoanão é, necessariamente, o mesmo que para outra. Pensandonisso, o InstitutoAkatu introduziuna pesquisa Rumo à Sociedade do Bem-Estar , reali- zada em2012, apergunta: oque é felicidadeparaobrasileiro? E o resultadome deixou extremamente feliz. Apesquisa aponta que os brasileiros dãomais valor à qua- lidade de vida do que aos bensmateriais. Comuma pergunta emaberto (o que é felicidade para você?), cerca de dois terços dos entrevistados citaram que estar saudável e/ou ter sua família saudável é um dos principais motivos de felicidade. Conviverbemcoma famíliaeosamigos tambémfoi apontado como fator de felicidadepara 60%dopúblicoque respondeuà pesquisa; qualidade de vida foi apontado por 36%do público; e apenas três emcada dez brasileiros indicarama tranquili- dade financeira emsuas respostas. Os resultados da pesquisamostraramque os entrevista- dos, de forma espontânea, associama sua felicidademuito mais ao bem-estar físico e emocional e à convivência social do que aos aspectos financeiros e à posse de bens. Por mais que asmarcas, a propaganda e diversas comunicações ten- dam a associar a felicidade à aquisição de bens, isso não é expresso espontaneamente pelas pessoas, que se veemem primeiro lugar como cidadãos — que almejammanter a pró- pria saúde e a da família, o convívio social e a qualidade de vida — e só depois como consumidores. Esseéumindicadorimportantenadireçãodeumamudança necessária nomundo de hoje, quando a humanidade já con- some 60% mais recursos naturais renováveis do que o pla- neta é capaz de regenerar. Além disso, o desequilíbrio no consumo tambémépercebidoquando seobservaque apenas 12% da população mundial, que vive na América do Norte e na Europa Ocidental, representa 60% do consumo global, enquanto os 33% que vivem no sul da Ásia e na África sub- saariana representamsomente 3,2% do consumomundial, segundo oWorldwatch Institute. Essa concentração, quando adicionada ao crescimento dos mercados emergentes na direção de umconsumo demassa, exige umamudança dos modelos de produção e de compra, para que se possa voltar a consumir apenas umplaneta emummundo que expande enormemente o número de consumidores. Naturalmente, consumir é necessário e o ato de adquirir bens respondemuitas vezes às necessidades, alémde trazer uma sensação fugazde felicidade.Mas é fundamental pensar emcomo consumir de forma diferente, demodo consciente, embuscademelhores impactos, incluindoaqueles sobrenós mesmos. Precisamos sempre lembrar de que, se estamos trocando o celular por umnovo ou comprando roupas novas porque as tendênciasmudaram, o “velho”, casonãopossa ser reaproveitado, pode ser descartado, adicionadoaovolumede lixo. E não estamos nem falando sobre os recursos usados durante a produção desses itens, que estão sendo descarta- dos sem que tenham desempenhado seu papel até o fim da vida útil. Isto significa que enormes quantidades de recursos naturais foram retiradas e, agora, descartadas de maneira desrespeitosa coma natureza e comosmilhões de anos que foramnecessários para ela poder disponibilizar alguns dos materiais usados nesse equipamento... E isso para não falar dos reflexos negativos de sua produção, que, aomenos, deve- riam justificar o uso do equipamento por um tempo maior, minimizando, assim, os impactos por unidade de tempo. Um dos caminhos para um consumo diferente é o das experiências que valorizemas emoções, aquelas que trarão uma satisfação estável emais durável do que as do consumo de bens desnecessários, dos quais deriva uma satisfação apenas momentânea. Experiências rendem lembranças e laços que duram por toda a vida. Se isso parece óbvio, é porque provavelmente você, leitor, já andou umbomcami- nho na direção de um estilo de vida sustentável e de um consumo consciente. Exatamente como aponta a nossa pesquisa Rumo à Sociedade do Bem-Estar em relação a um grande grupo de brasileiros. O consumo consciente está se mostrando cada vez mais um tema essencial para a construção de uma sociedade do bem-estar, na qual a busca das pessoas não é por produtos, mas simpelobem-estar oferecidopelo seuuso. Emque a fun- çãodesempenhadapor umprodutoémais importantedoque a posse individual dele, incentivando seu uso demodo com- partilhado e por um longo período de tempo. Essa conscien- tização estádiretamente relacionada à buscapela felicidade, pois,afinaldecontas,verosnossosfilhos,netosefuturasgera- ções vivendo emuma sociedade capaz de valorizar e cuidar de seus recursos naturais enche de felicidade qualquer um. Helio Mattar Doutor em engenharia industrial pela Universidade Stanford (EUA) e diretor-presidente do Instituto Akatu divulgação
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