RESPM ABR_MAI_JUN 2017
entrevista | José Ronaldo de Castro Souza Júnior Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 14 Revista da ESPM — No passado, o Ipea foi um dos principais propagadores da “nova classe média” e seu poder de consumo. Hoje, muitas dessas famílias perderam renda, se aproximaram da linha da pobreza e, com isso, passaram a integrar a classe dos “novos pobres” — identificada pelo Banco Mundial no fim do ano passado. Como você avalia essa “dança das classes sociais”? José Ronaldo de Castro Souza Júnior — Quando o Marcelo Nery foi presidente do Ipea, nossos trabalhos eram muito focados nas classes so- ciais, até por conta de ele ser um es- tudioso do assunto. Na época, estava ocorrendo uma mudança profunda em termos de composição social. Agora, continuamos estudando o tema, mas não com tanto destaque. Não trabalho diretamente com esses critérios, mas posso afirmar que o problema da ascensão social é que ela não veio acompanhada de um au- mento na produtividade do trabalho. Isso fez comque o salário crescesse de forma desproporcional ao aumento da produtividade, que ficou estagnada. A baixa produtividade registrada na última década foi compensada pelo bônus demográfico causado pela en- trada de muitos jovens no mercado de trabalho. Quando essa oferta começar a diminuir, o Brasil ficará fadado a crescer pouco, por conta da redução de sua população economicamente ativa, uma vez que no futuro teremos mais gente na idade de não trabalhar do que trabalhando. É provável que, emmeados de 2030, oBrasil já comece a registar um crescimento negativo da população economicamente ativa. Aqui, essa transição está acontecendo de maneira muito mais acelerada do que em outros países, por conta do envelhecimento da população. Revista da ESPM — Em sua opinião, o que levou à queda de muitas famílias antes consideradas pelo Ipea como inte- grantes da nova classemédia? Souza Júnior — Para ser sustentável no longo prazo, todo ganho de ren- da precisa vir junto com políticas macroeconômicas — monetárias e fiscais — equilibradas e anticícli- cas, que evitem a exacerbação dos movimentos do PIB, e uma política expansionista. Faltou ao Brasil um equilíbrio macroeconômico capaz de evitar excessos. Além disso, a bai- xa produtividade afetou diretamente a competitividade do país e a renta- bilidade de todas as empresas que aqui atuam. No momento, estou tra- balhando em um projeto para quan- tificar o capital humano no Brasil. O trabalho ainda não está pronto, mas já é possível visualizar por meio de dados do Censo um aumento quanti- tativo da mão de obra, sem o devido aumento da escolaridade. Isso signi- fica que o ganho de produção do país ocorreu devido à incorporação de no- vos trabalhadores ao mercado e não ao aumento de sua produtividade. Revista da ESPM — Recentemente, o Ipea divulgou um estudo sobre o perfil da força de trabalho brasileira, que está se tornando mais idosa e instruída. O que essas duas características significam? Souza Júnior — Sim. Desde 2014, no- tamos aocorrênciadedois fenômenos: o aumento da escolaridade e da idade da população empregada. Em 2012, os trabalhadores entre 25 e 39 anos erammaioria nomercado de trabalho, com 39,2% de participação. Hoje, esse público representa 38,5%, enquanto os profissionais de40a59anos passaram de36,6%, em2012, paraos atuais 39,7% e agora lideram a força de trabalho nacional. Os profissionais acima de 60 anos também ampliaram sua par- ticipação entre a população ocupada, de 6,3% para 7,3%, nos últimos cinco anos. Já os jovens entre 18 e 24 anos re- duziram sua presença no mercado de trabalho de 14,9% em 2012 para 12,7% no anopassado. Revista da ESPM — Isso significa que os jovens estão tendo dificuldade para in- gressar nomercado de trabalho, ocupado por profissionais mais experientes? Souza Júnior — Sim. Oenvelhecimen- to da força de trabalho já era espera- do. O que a crise fez foi acelerar esse processo entre as pessoas que estão empregadas. Tivemos uma redução drástica no número de admissões, principalmente entre os jovens sem experiência. Ainda estamos investi- gando esse fenômeno, mas sabemos que a crise afetou com maior intensi- dadeosmais jovens e commenor nível educacional. Aparentemente, o que aconteceu nos últimos anos foi que os profissionais com maior idade e esco- laridade permaneceram empregados Até hoje, a baixa produtividade foi compensada pelo bônus demográfico causado pela entrada dos jovens nomercado de trabalho. Quando essa oferta diminuir, o Brasil ficará fadado a crescer pouco
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