RESPM ABR_MAI_JUN 2017
entrevista | José Ronaldo de Castro Souza Júnior Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 16 dos brasileiros. Para tanto, estamos preparando um documento com uma série de recomendações para dobrar o nível de renda do brasileiro e fazer com que o Brasil se torne um país de- senvolvido. Previsto para ser lançado nopróximomês de setembro, oprojeto Desafios da Nação conta com a parti- cipação de 58 pesquisadores do Ipea e está baseado em três eixos: vencer a barreira da rendamédia, compolíticas de desenvolvimento que dobrema ren- da per capita brasileira; crescimento com inclusão social, que inclui mão de obra capacitada e uma sociedade menos dependente do Estado; e o de- senvolvimento e absorçãodas tecnolo- gias críticas para o desenvolvimento, de forma a acelerar o crescimento econômico. É um norte para além das reformas da previdência e trabalhista. Revista da ESPM — Como o Ipea pre- tende tirar essas recomendações dopapel? Souza Júnior — Este documento será entregue ao presidente da República junto com um aparato legal que trans- forme o Ipea no planejador responsá- vel por pensar o futuro do país. A ideia é ter um órgão de Estado, composto por profissionais independentes que consigam pensar o desenvolvimento da nação no longo prazo e pôr em prá- tica umplano que tenha estabilidade e continuidade, independentemente do partidoque estejanopoder. Atéporque estamos recomendando políticas pú- blicas que envolvem questões fiscais, educacionais, de infraestrutura e de trabalho que são necessárias, mas impopulares. E sabemos que nenhum político quer aprovar esse tipo de reforma. Porém, quando a casa está arrumada e o crescimento vem, todos queremaparecer. Temuns que, no pas- sado, até chegarama chamar de “mila- gre econômico” algo que sabemos ser apenas “consequência de um ajuste planejadoque foi posto emprática”. Revista da ESPM — O Brasil precisa ser desburocratizado, modernizado e re- estruturado para deixar o posto de eterno país do futuro. Combase nas recomenda- ções do Ipea, por onde devemos começar a enfrentar os Desafios daNação? Souza Júnior — Hoje, eu já estou olhando para o Brasil de 2060 para avaliar como devemos lidar agora com as grandes questões a serem enfren- tadas no futuro. O grande problema é o da formação do trabalhador, que temmais estudo, mas não necessaria- mente é mais produtivo. Precisamos investir em uma boa formação básica, ensinar as pessoas a aprender a es- tudar e acabar com o analfabetismo funcional. O brasileiro precisa saber interpretar bem um texto e aprender a usar a matemática e o raciocínio lógico. Não adianta você querer que os alunos aprendam filosofia se muitos deles não sabem fazer uma conta ou interpretar um texto. O trabalhador brasileiro também vai precisar cada vez mais interagir com máquinas e produtos eletrônicos para ter a possi- blidade de assumir uma nova profis- são, quando — e se — a sua função atual deixar de existir por conta da tecnolo- gia. Entre os desafios da nação estão ainda a redução do ativismo judicial, a criação de regras claras para dar segu- rança aos investidores e o ingresso do país nas cadeias globais de valor para competir no exterior e assim ganhar competitividade. Tudo isso deve vir juntamente com um melhor padrão ético e, claro, a aprovação das refor- mas previdenciária e trabalhista. Revista da ESPM — O que dizem as previsões do Ipea caso as reformas não sejamaprovadas? Souza Júnior — Estamos, no míni- mo, 20 anos atrasados. Se tivéssemos iniciado esse processo de reforma na década de 1990, não chegaríamos à situação dramática que vive o Rio de Janeiro hoje. Muitos não têm cons- ciência da gravidade e da urgência dessa reforma, que é essencial, pois o Brasil está sofrendo uma mudança in- tensa e rápida emseuperfil demográfi- co. Nos últimos dez anos, por exemplo, o Rio de Janeiro teve um aumento de quase 50% nos gastos com a previdên- cia por conta da enorme quantidade de pessoas que se aposentaram pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O resultado é que o sistema está inchado. Para evitar a explosão da dívida pública, o governo precisa adotar uma política de contenção de gastos. A sociedade não aceita mais aumentos consecutivos de cargas tri- butárias. Logo, a única opção é conter os gastos. Mas como conter os gastos, se você temumgrupo — o da previdên- cia social — que não para de crescer? O prazo para o Brasil pôr a casa em or- Os empresários optarampor manter o emprego dos funcionários mais produtivos. Quando a economia voltar ao normal, primeiro teremos um ganho de produtividade para depois retomar as contratações
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