RESPM ABR_MAI_JUN 2017

abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 17 dem termina em 2020. Se as reformas não forem feitas, a situação fugirá do controle nos próximos três anos e será impossível cumprir as metas fiscais. É uma questão matemática: essa é uma conta quenão fecha há anos. Revista da ESPM — O governo fede- ral temmuita fé na retomada dos inves- timentos, como fator de recuperação da economia. Mas as perspectivas não são tão boas, principalmente levando- se em conta o protecionismo crescente no exterior e a capacidade ociosa que existe em nossa economia. Como você avalia essa situação? Souza Júnior — Esse protecionismo é prejudicial para a competitivida- de do Brasil. Tem muito investidor estrangeiro querendo investir aqui, mas precisa de dois incentivos: ma- croeconomia estável e uma melhor situação fiscal. Basta ver o que acon- teceu com o setor de transmissão de energia. No ano passado, pequenas mudanças de regulação em termos de complexidade foram feitas e logo vieram os investidores. A minha es- perança está na equipe do governo, que é formada por bons técnicos, reconhecidos no meio acadêmico, como o economista João Manoel Pinho de Mello, que em março assu- miu a chefia da Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda [ posto recém- criado pelo ministro Henrique Meirel- les com o objetivo de agilizar a imple- mentação de medidas para aumentar a produtividade da economia ]. Revista da ESPM — Sabendo que a economia já começa a se recuperar, que panorama você traça para o consumo e a renda das famílias nos próximos anos? Souza Júnior — No momento, sinto ummisto de preocupação e otimismo condicional, porque a situação é grave. Estamos saindo de anos de recessão profunda para iniciar uma recupe- ração que depende de reformas que não foram conseguidas no passado. O fato é que depois da industrialização do país só tivemos períodos de voo de galinha, com pequenos crescimentos seguidos por quedas consideráveis. Agora temos a chance de sair da renda média e atingir um novo patamar de desenvolvimento, como fez a Coreia do Sul, que nos anos de 1960 tinha uma renda menor que a do Brasil. O país asiático cresceu e se transformou emuma referência nas áreas de tecno- logia e inovação, ao investir em educa- ção e abertura da economia com foco na exportação. Há três décadas, a pro- dutividade da Coreia equivalia a 45% da brasileira [ dois sul-coreanos produ- ziam pouco menos que um trabalhador do Brasil ]. Infelizmente, oBrasil seguiu o caminho oposto [ hoje dois brasileiros produzemmenos que um sul-coreano ]. Revista da ESPM — Caminhávamos para uma retomada do crescimen- to, até que a delação premiada dos irmãos Wesley e Joesley Batista, do Grupo J&F, incendiou Brasília. O que mostram os números do Ipea em rela- ção ao impacto dessa crise política na economia nacional? Souza Júnior — Qualquer questão que aumente o risco de não aprova- ção das reformas constitucionais, especialmente a reforma da previ- dência, pode ter efeitos negativos sobre a retomada do crescimento. O ajuste fiscal em curso é gradualista e depende de mudanças importantes de regras para torná-lo viável. Se o risco aumentar muito, o custo de financiamento do deficit público também aumentará, o que poderá comprometer a nossa projeção ori- ginal de redução duradoura da taxa de juros na economia brasileira. A in- certeza sobre tudo isso ainda é muito grande, por isso é difícil quantificar os impactos de tais eventos. shutterstock Aretomadadaeconomia jácomeçou,masaindaégradual. Estamos prevendoumcrescimentode0,7%nesteanoede3,4%para2018

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