RESPM ABR_MAI_JUN 2017

Sociedade Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 20 F icou bem distante o tempo em que o Brasil era chamado de Belíndia, apelido que nos foi dado nadécadade1970, quandoéramosumpaísmar- cado por uma desigualdade contrastante. Na época, a minoria da população brasileira vivia em con- dições similares à Bélgica e a maioria esmagadora das famílias tinha umpadrãode vida semelhante aoda Índia. Emapenas seis anos,mais especificamente entre 2004 e 2010, 32 milhões de brasileiros ascenderam à classe C, tambémconhecida como classemédia. E, pelomenos 19 milhões deixarama pobreza extrema, segundo dados do InstitutoBrasileirodeGeografia eEstatística (IBGE). Esta façanhanãoéquestionável, compõeumfato.Questionável mesmo é o que este avanço representa ao longodo tempo. Se, por um lado, milhões de brasileiros tiveramacesso àsmelhores condições de vida pormeio do consumo, por outro, o índice de desigualdade do Brasil continuou alto. O índice Gini, que mede a desigualdade nos países, foi reduzido de 0,607 em1990 para 0,526 em2012, e depois para 0,491 em 2015. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. Aparentemente, progredimos com essa diminuição do índice Gini, mas na realidade não foi o que ocorreu. No período, a rendamédiamensal do brasileiro recuou 5,4%, de R$ 1.845 para R$ 1.746, conforme dados divul- gados emnovembro de 2016 pelo IBGE. A perda foi para todos os públicos da pirâmide socioeconômica. Os 10% mais ricos tiveram uma perda de 6,6% e, entre a elite, a maior queda foi registrada entre a classe 1%mais rica da população, que perdeu 6,9% de sua renda. Osquemaissofreramforamjustamenteosmaispobres, que tiveramamaior quedana renda: 7,7%. Aclassemédia, por sua vez, foi quemmelhor segurou a peteca, comuma queda média de renda de 5%. Está explicado: a queda recente no índice de desigual- dade só ocorreu porque a renda caiu para todos. Ficamos todos mais pobres. Só não é possível dizer que alcança- mos igualdade no empobrecimento da população, por- que a nossa desigualdade de infraestrutura, condições, possibilidades e oportunidades entre osmais pobres e os mais ricos é tão gigante que ainda se mantêm os extre- mos da pirâmide bem longe umdo outro. Não faltam dados nem debates acalorados sobre a situação da nova classe média brasileira. Números não são somente números, mas sempre representam pes- soas. Há muito sentimento e emoção por trás dos índi- ces e indicadores que decodificama população. Por este motivo, apresento aqui, comexclusividade para a Revista da ESPM , um breve resumo das conclusões prelimina- res de umestudo comabordagemetnográfica que venho conduzindo nos últimos dois anos na inSearch, empresa de pesquisa de mercado, comportamento e tendências. Convidoo leitor avisitar comigo50domicíliosdaclasse Ce verificar comoessas famílias estão fazendoparaman- ter as conquistas alcançadas. Aventura etnográfica Hoje, a etnografia é a queridinha do marketing e dos publicitários. Várias empresas já investiram e conti- nuam direcionando recursos para estudos etnográfi- cos. Mas nem tudo o que vemos por aí no mercado é, de fato, etnografia. Arendamédiamensal dobrasileiro recuou5,4%, deR$ 1.845para R$ 1.746, conforme dados divulgados emnovembrode 2016pelo IBGE shutterstock

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