RESPM ABR_MAI_JUN 2017
abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 23 Depoisdesta listaprioritária, tudoépermitido, segundo o dinheiro disponível. A família opta por adiar o paga- mento das dívidas que têm os menores juros e dos ser- viços que serão interrompidos somente após trêsmeses de débito. 2. Pedagogia da dificuldade “ Esta crise está sendo boa porque está nos ensinando que a gente não precisa gastar tanto. Aqui em casa cortamos os gastos com roupas e tênis. A gente estava mesmo era gastando demais, sem consciência .” É constante ouvir esta explicação nas 50 famílias estudadas. Todos concordamque a atual crise econômica temum lado positivo: estãomais atentos às contas, mais caute- losos e prudentes quanto a contrair novas dívidas. Tam- bém estão evitando parcelamentos e cortaram gastos que consideram supérfluos neste momento. Na realidade, esses cortes são feitos à força pelo próprio mercado, uma vez que parte considerável das famílias da classe C está inadimplente e sem acesso ao crédito. Um levantamento recente feito pela Serasa Experian aponta que 60% dos 57 milhões de inadim- plentes do Brasil são da classe C e que as principais razões para o não pagamento são o desemprego (35%) e o descontrole financeiro (29%). Ainda que o aprendizado seja à força e dolorido, a difi- culdade atual tem despertado uma consciência e um olhar mais atento para o consumo e para as dívidas. A maioria das famílias afirma não estar sentindo falta de muitos dos cortes que fez, reconhecendo que, no pas- sado, se embebedou na farra do consumo. 3. Empreendedorismo de necessidade “ Se correr atrás, o dinheiro aparece .” Ao lado do desem- prego, mora o empreendedorismo da sobrevivência. Nada tem a ver com um empreendedorismo planejado ou vocacional, mas sim com a urgência de fazer algum dinheiro. Conhecido como “empreendedorismo de necessidade”, ele visa a sobrevivência e não a ascensão social ou a independência trabalhista. Onúmero de pes- soas que estão trabalhando por conta própria aumentou 10,5% nos últimos dois anos, segundo levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizado pelo IBGE. Em janeiro deste ano, o número de empreendimentos cresceu, coma abertura de 166,6mil novas empresas no país, 10,4% amais do que nomesmo mês de 2015, conforme mostra a Serasa Experian. Fazer brigadeiro, bolo, lanche e doces para vender, serviços demanicure ou pedicure, montar um salão de cabeleireiro na sala ou na garagem de casa, ler a sorte jogando tarô ou búzios, vender produtos por catálogo, atuar como DJ... Enfim, é uma diversidade sem-fim de produtos e serviços que são oferecidos do privado para o público. Isto é, a produção é sempre doméstica, pois mesmo quando se trata do comércio por catálogo, o esforço de vendas envolve o núcleo familiar. Nos50domicíliosestudados, oBrasil nãoestádivididoentre direitacontraesquerda.Nãodiscutemsobrepolítica. Falam sobrepolíticaapenasparamaldizer ecriticar ospolíticos shutterstock
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