RESPM ABR_MAI_JUN 2017

Análise Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 30 Mas o consumo na classe média só foi possível em virtude do crédito, o que gerou um alto índice de ina- dimplência, principalmente nas classes mais baixas (fonte: Serasa). Nos últimos anos, muitos começaram a ter dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento da classe média e do seu poder de consumo. O crédito farto e fácil poderia ser um fator preponderante, mas ele tende a não se manter em momentos de crise. Um aspecto fundamental para a mobilidade social e sua manuten- ção ao longo do tempo é a educação. Por isso, é muito importante entender como a questão está evoluindo. Os dados oficiais (IBGE) revelam que as mudanças ocorreram, porém foram lentas e insuficientes para gerar orgulho nesse setor, que tem a agravante de pos- suir uma qualidade ainda precária. Em 2015, 32% dos adolescentes de 15 a 17 anos ainda não possuíamo ensino fundamental completo, e, entre os jovens de 18 a 21 anos, 44% não tinham completado o ensino médio. No ensino superior a questão é ainda mais grave, pois apenas 17% das pessoas de 22 a 35 anos haviamcompletado seus estudos. Oponto positivo é que esses índices não caíramdiante da crise econômica em 2015, o que nos remete à hipótese de que o brasileiro tem uma atitude mais positiva em relação à educação, mesmo diante do desemprego. Os ganhos adquiridos de renda, consumo e educação levam à transformação da nova classe média, que hoje tem novos desejos e necessidades. Há alguns anos os indivíduos estavam voltados fortemente à sobrevivên- cia da família. Agora, a valorização da família ainda é alta, mas desejos pessoais estão se desenvolvendo, como busca por prazer e qualidade de vida. Entretanto, a renda ainda é restrita para suprir todas essas necessidades e essa classe média continua voltada fortemente para a eliminação ou atenuação de carências. Educaçãoe renda, segundoos estudiosos, sãoos fatores cruciais para a existência de umprocesso demobilidade social sustentável. Porém, depende da conjuntura eco- nômica internacional e de fatores econômicos internos, como baixa taxa de desemprego, manutenção da renda, controle da inflação e graude investimentono país. Além dos fatores econômicos, os recursos humanos também são importantes, tais como nível educacional, capaci- dade empreendedora e atitude emrelação ao trabalho. A sustentabilidade tambémpoderia receber a contribuição do aumento dos postos de trabalho, mas o que estamos vendo é a forte presença do setor informal na economia decorrente da ausência de reformas trabalhista e tribu- tária. Havendo mobilidade, é natural que os indivíduos passem a ter outras exigências em relação aos serviços públicos e, nessa área, o Brasil também apresenta mui- tas vulnerabilidades. A análise desses aspectos ao longo do tempo é fun- damental para compreendermos o processo em si e a sua sustentabilidade. No passado, as interpretações da mobilidade social e projeções realizadas para a classe C foram feitas sem dar atenção à forte interferência do crédito farto e fácil em contraposição ao fato de a renda média desse estrato ser ainda muito baixa. Se conside- rarmos que a renda média familiar da classe C gira em torno de R$ 2.000,00 e que aproximadamente 70% desse valor está comprometido com gastos de quatro catego- rias (vestuário,moradia, alimentação e transporte), como imaginar uma grande mudança no padrão de consumo sem o acesso ao crédito? Além disso, o cenário atual aponta para uma reces- são, o PIB sofreu queda de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016 e, consequentemente, as taxas de desemprego aumenta- ram, chegando a 12% no fimde 2016. A ausência de refor- mas trabalhista e tributária favorece a presença do setor informal na economia. Onúmero de trabalhadores sem carteira assinada aumentou em 2016, regredindo aos patamares de 2013. Orendimentomédiodesses trabalha- dores tambémvemsofrendo queda desde o ano passado. Entre os setores da economia mais afetados estão indústria, agricultura e construção, que diminuíramos postos de trabalho, sendo que a indústria também redu- ziu o saláriomédio de seus trabalhadores. Os setores de transporte, alojamento e alimentação têmsido o refúgio dos que procuram emprego. Dados da Serasa indicam que a inadimplência cresce, principalmente nas classes baixas, o que aponta para a Educação e renda, segundo os estudiosos, são os fatores cruciais para a existênciade umprocesso demobilidade social sustentável

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