RESPM ABR_MAI_JUN 2017

Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 32 Émuita faltade educação... financeira! Qual é hoje a relação do brasileiro com o dinheiro e como essa relação foi influenciada pela rápida ascensão das pessoas à classe média, pela política de incentivo ao consumo praticada durante o governo de Dilma Rousseff e pela atual dança das classes sociais? Por Cássia D’Aquino Filocre Finanças E m1942,opaíspossuía56tiposdiferentesde cédula.Parauniformizarodinheiroemcir- culação, foi instituídaaprimeiramudança depadrãomonetáriodoBrasileoantigoréis deu lugar ao cruzeiro. Tempos depois, entre os anos de1967e1994,amoedanacionaltrocoudenomesete vezes.Atédesembocarmosnoreal, há23anos,muita água passou pelas pontes da relação dos brasileiros com dinheiro: reajustes diários de preços; compras de supermercadoque exigiamestratégiae focopara lotar tão rápido quanto possível omaior número de carrinhos;gentequeestocavalatasdepêssego,azeite emolho de tomate e caixas de sabão empó — numa versãocaseirae tristedomercado futuro.Havia tam- bém as explicações malpassadas de economistas idem, que em linguagemviciada — economês, ape- lidaramosmortais—anunciavama trocadamoeda. E a população lá, olhos postos no anúncio, sempre durante o Jornal Nacional , sem entender grande coisa — aliás, nemgrande nempequena —, a não ser que o dinheiro da gente não valiamesmo era nada. Numa economia sufocada pela hiperinflação, qualquer tentativa de planejamento tinha resulta- dos desanimadores. Se não era possível saber o que esperar da economia para o dia seguinte, que dizer de planejar os passos para os próximos cinco ou dez anos. Como amaior parte daquilo que compõe anossa visãodemundoé construída até atingirmos os seis anos de idade — a partir do que observamos nocomportamentodospais—, nãoédifícil perceber queascicatrizesdeixadaspeloperíodo inflacionário não se apagaramemumestalar de dedos no dia da criação do real. Ao contrário, hámesmo razão para suporqueelascontinuamvivas, latejando, emquase todos os brasileirosmaiores de 30 anos. Aquestão, portanto, queseapresentaparaamaior parte da população é que, ainda hoje, prevalece de forma furtivacertadesconfiançaemrelaçãoaovalor do dinheiro. Para dizer de outra forma, para parte considerável dos brasileiros, gastar imediatamente odinheiro, consumindonão importa o quê, ainda é umaopçãocommaisapeloquepouparparao futuro. Apesardessecalocomportamental,aestabilidade damoedadevolveuàs pessoas aomenos apossibili- dade de se planejar em relação ao dinheiro. A pers- pectiva de arquitetar desde projetos simples, como as próximas férias, àqueles fundamentais, como o de organizar planos de previdência ou administrar uma poupança para aquisição do primeiro imóvel, começouaganharfôlego.Nãoporacaso,poucodepois doPlanoReal, surgiramcolunas especializadas em planejamentofinanceiroemváriasrevistasejornais. A noção de que era possível e importante educar a população para lidar com o dinheiro foi ganhando sentido. Aessemomentocorrespondeomarcozero, o ponto inicial, da educação financeira no Brasil.

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