RESPM ABR_MAI_JUN 2017
abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 35 Assim,emumestalardededos,pipocaramfinanceiraspor todo canto. Nãohouvebancoquenãoabrisse a sua versão popular.Nascidadesdegrandeemédioportes,asfinancei- ras disputavamos clientes nas ruas. “Promotores de ven- das” abordavamos passantes e os levavam, pelos braços, a se endividarem. Era a farra do crédito. Cobrando juros de corar agiotas deDickens, os bancos faziamseu carnaval. Do outro lado do balcão, a clientela debutante não recusava valsa: pegava dinheiro aqui e, mal informada e feliz, dobrava a esquina e se endividava mais umtantona concorrência. Abomba da inadimplên- cia estava armada. Tic-tac. Desde que o dinheiro foi inventado, o homem tem se preocupado comamelhor forma de utilizá-lo. É possível dizer que a intenção de transmitir princípios norteado- res emrelação às finanças — educação financeira — é tão antiga quanto o próprio dinheiro. Aristóteles, por exem- plo, em 349 a.C., dedicou parte considerável da Ética a Nicômaco para falar sobre essas questões. Enquanto no Brasil a educação financeira apenas começava a engatinhar durante o pós-real, no restante do mundo o tema iniciava uma fase especial. No início do ano 2000, a Citi Foundation — poderosa fundação do Citibank — fez saber que durante dez anos concentraria a concessão de seus disputados fundos emprojetos vol- tados ao tema. Essa decisão impulsionou a elaboração de pesquisas e a implantação de programas, vários de excelente qualidade. Provavelmente o mais reveren- ciado deles, o Programa Global de Educação Financeira desenvolveu uma metodologia específica para a popu- lação de baixa renda e foi implantado com sucesso em mais de 80 países. Por sua importância e abrangência, a iniciativa da Citi Foundation serviu para popularizar a expressão “educação financeira”. Isso foi ótimo, claro. Não fosse por umporém. Com as bolsas de valores aquecidas em todo o globo, enriquecer investindo no mercado de capitais virou mote de livros de autoajuda. O negócio editorial brasi- leiro, colado às novidades norte-americanas, rapida- mente tratou que uma dezena de livros fosse traduzida ou “inspirasse” escritores nacionais. A estratégia foi um sucesso. Durante umpar de anos, a lista dos livrosmais vendidos provou isso. Por bizarra ironia, umdos notáveis campeões de ven- das, umnorte-americano comlegiões de admiradores no país, pregava ser função da educação financeira ensinar a “enriquecer”. Embora o pensamento envolvesse uma compreensão bastante rasa do assunto — ou talvez por isso mesmo —, o equívoco fisgou um bocado de gente. A partir daí houve uma febre de algo que era (mal) identifi- cado como educaçãofinanceira. Sites, blogs,mais emais livros de autoajuda vendiama tesedeque saber lidar com dinheiro era “ser rico”. Na excitaçãomaníaca que tomava conta do país — se até Eike é por nós, quem será contra nós? —, houve quem vendesse a própria casa; o negócio Paramanter girando a roda da fortuna econômica, a base da pirâmide era ao mesmo tempo estimulada a continuar consumindocomosenãohouvesseamanhã shutterstock
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