RESPM ABR_MAI_JUN 2017

economia Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 48 E ntre 2004 e 2014, houve um processo virtu- oso de mobilidade social, quando a propor- ção de famílias pertencentes às classes D e E (com rendimento familiar de até R$ 2,3 mil) sofreu sensível redução, de 69,3% para 51,9% do total de famílias brasileiras. Essecontingentedenominadode “novaclasseC” possi- bilitou que o percentual de famílias da classeC (comren- dimento familiar entreR$2.300,00eR$5.550,00) no total de famílias tivesse uma elevação de 20,5%para 28,6%em dez anos. Alémdisso, as classes B eA (comrendimento a partir de R$ 5.550,00 e de R$ 17,3mil, respectivamente), embora continuem representando uma parcela menor do total de famílias brasileiras, tambémmostraramum ganho de participação acentuado. A classe B passou de 8% para 15,7% do total de famílias, enquanto a classe A foi ampliada de 2,2% para 3,8%. Em termos de renda, houve ganhos substanciais em todasasclassesnesseperíodo:7,3%aoanoparaasfamílias de classeC; 8%no casodas famílias de classeB; e 7%entre as famílias de classe A — isso já contando como efeito da migração de famílias de uma classe para outra. Enquanto isso, a renda nas classesDe Eficou quase estagnada, com altadeapenas1,8%aoano, emvirtudedasaídade famílias para asdemais classes. Esse fenômeno trouxe sensíveismudanças no padrão deconsumo, comumforteaumentodedemandapor bens e serviçosmais sofisticados e contração na demanda de bens populares. Omesmo fenômeno tambémmotivou ganho de participação demercado dasmarcas premium em um amplo conjunto de mercados como refrigeran- tes, biscoitos etc. No entanto, a severa crise econômica quemarcou os anos de 2015 e 2016 anulou parte desses ganhos. A pro- porção de famílias da classe A caiu de 3,8% do total de famílias para 3%; a participação da classe B encolheu de 15,7% para 13%; a classe C diminuiu de 28,6% para 27,8%; já a classe D/E voltou a inchar, passando de 51,9% do total de famílias para 56,1%. Houve 4,1 milhões de famílias que tiveramde percorrer o perverso caminho de volta para as classes de menor renda, contingente que acabou sendo denominado de “ex-nova classe C”. Em termos de fluxo de renda, a classe C não foi a que mais sofreu, mostrando queda de 0,4% emcada umdes- ses dois anos, pois, enquanto perdeu umgrande número de famílias para a classe D/E, também recebeu de volta famílias que se desgarraram da classe imediatamente acima. A classe B com isso mostrou perda de renda de 2,2% entre 2015 e 2016, ainda que tenha também rece- bido de volta famílias que antes da crise estavam clas- sificadas como classe A. E foi, de fato, a classe demaior renda a mais afetada pela crise, com queda de 5,3% na renda por dois anos consecutivos. Tais resultados fizeram cair por terra algumas cren- ças de que as classes demaior renda estariammais blin- dadas contra a crise e ajudam a explicar a forte queda em diversos segmentos de bens de luxo. Um exemplo é o segmento de imóveis novos de alto padrão, que mostrou queda vertiginosa de 48% por dois anos con- secutivos, enquanto o mercado imobiliário como um

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