RESPM ABR_MAI_JUN 2017

abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 53 “Estamosàbeira doprecipício” Por Alexandre Teixeira Foto: Divulgação M arcelo Cortês Neri é um economista experiente. Tem 54 anos, já foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Dilma. Ph.D. em economia pela Universidade de Princeton, é um dos mais respeitados especialistas em políticas públicas voltadas à distribuição de renda no Brasil. Hoje atuando como pesquisador e diretor da FGV Social, Neri tem dito que o retrocesso social do país nos últimos dois anos é aindamaior do que o revelado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado em março. Medida por esse indicador, a desigualdade no Brasil aumentou pela primeira vez em 22 anos. Responsável por popularizar o termo “nova classe média”, Neri defende que a classe C vitaminada nos anos Lula era, sim, “classe média no sentido econômico”. Ele diz entender o questionamento feito por muitos sociólogos, sobre as reais con- dições de vida do contingente de trabalhadores alçados ao mercado de consumo — “mas as minhas classes não são sociais, são classes econômicas”, pondera nesta entrevista. Se o modelo para comparação for a classe média americana ou europeia, nota ele, “ela estaria mais em linha com a nossa classe A/B”. Para Neri, o aumento da desigualdade é fruto de dois fatores simultâneos — au- mento da inflação e desemprego em alta — que minam os esforços de retomada do crescimento. “Pessoas perdem seus empregos”, diz, enquanto outras, com medo do que está por vir, “agem como se estivessem desempregadas”. Com isso, o motor do consumo das famílias, fundamental para a expansão do PIB no último ciclo de cres- cimento, não é religado. Outro entrave à retomada do crescimento e do processo de inclusão é o endividamento das famílias. “Mais do que o consumidor, os economis- tas brasileiros têm de aprender mais sobre as vantagens de poupar”, afirma Neri, que é crítico da falta de estímulo à poupança no país. Pelas suas contas, o ponto crítico da crise, em termos de queda de renda, foi o segundo trimestre de 2016. “De lá para cá, a perda de renda das pessoas vem dimi- nuindo, embora o desemprego esteja alto e continue subindo”, afirma. “Estamos à beira do precipício”, conclui Neri. “Mas ainda estamos surpreendentemente altos.”

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