RESPM ABR_MAI_JUN 2017

abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 55 podem perder seus empregos e agem como se estivessemdesempregados. Revista da ESPM — Isso ajuda a en- tender o tamanho da queda no consumo das famílias em 2016: R$ 300 bilhões em um ano. É uma perda tão grande que nos leva a pensar se nos anos anteriores havia uma bolha de consumo. Neri — Foi uma queda grande do con- sumo. Os fatores por trás dela são a queda da renda das pessoas, mais forte que a queda do PIB, o aumento da desigualdade e a falta de crédito. Os segmentos com maior queda de fatu- ramento são ligados ao crédito, como móveis e automóveis. Revista da ESPM — Faz sentido dizer que tivemos uma bolha de consumo? Neri — Não foi bolha, porque havia um fundamento para o consumo elevado, que era omercado de trabalho. Se exis- tiuumabolha, foi nomercadode traba- lho. Mas eu não chamaria de bolha. O mercado de trabalho dava sustentação ao consumo. Talvez o comportamento atípico tenha sido menos do consumi- dor e mais das firmas, continuando a empregar pessoas apesar da crise. É verdade que, aqui no Brasil, a gente va- loriza pouco a poupança. O brasileiro não acredita na força da poupança, no sentido de cada um tentar se defender das crises fazendo seupé-de-meia. Revista da ESPM —O retrocesso social no país foi revelado no último Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Qual é a situação atual? Neri — Nos últimos dois anos, a renda das pessoas caiu dois pontos percen- tuais mais do que o PIB. Ou seja, está devolvendo uma parte dessa gordura social que foi criada. Esta crise social, do ponto de vista de perda de renda das pessoas, émuitomais forte do que amuito discutida crise econômica. Po- rém o ganho foi tão grande no período anterior que o país está andando para trás,mas só voltamos até 2013. Revista da ESPM — Aproximadamen- te há um ano, você já dizia que as perdas sociais ainda não haviam acontecido na mesma escala da crise econômica. É isso que você está reforçando agora, com os dados disponíveis. Como é essa dinâmica? Neri —No começo de 2016 o país ainda não tinha o aumento da desigualdade materializado. Ele já estava acon- tecendo, mas ainda não havia sido observado nos estudos. De lá para cá, o Brasil colheu umano de forte aumento da desigualdade e dois anos de forte queda de renda, ainda maior do que a queda doPIB. Revista da ESPM — Demorou, mas a desigualdade voltou a crescer no Brasil. Neri — A imagem que eu gosto de usar é a de que estamos na beira do precipí- cio, mas ainda surpreendentemente próximo ao topo. O país já perdeu bas- tante, mas nada que se aproxime ao ganhoque tevede 2003 a 2014. Foi uma queda vertical, só que tínhamos subi- do a montanha durante muitos anos. O brasileiro, por meio do seu trabalho, conquistou muito na última década. Hámuitooque se perder. Revista da ESPM — Por esta lógica, de que há algum atraso entre a queda da atividade econômica e a diminuição do emprego e da renda, o que podemos espe- shutterstock Cada real queopaísempreganoBolsaFamíliaprovocaumimpactosobreoPIBtrês vezesmaior doquecada real queoBrasil aplicanaPrevidência

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