RESPM ABR_MAI_JUN 2017

abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 57 Revista da ESPM — Por que tem gente dizendo que o país não atingiu as suas metas sociais? Neri — Porque o Brasil acabou assu- mindo a meta de superar totalmente a pobreza. Até as Nações Unidas, em suas metas de desenvolvimento sus- tentável, acabaram incorporando o desafio assumido pelo Brasil. Só que esse desafio é problemático quando a taxa de pobreza está muito baixa. Em 2013, ela estava em 3,47% da popula- ção brasileira. Em 2014, 2,34%. Caiu, portanto, mais de 40% em um ano. Depois, a taxa sobe 24% de 2014 para 2015. Ela fica ricocheteando. Estamos em uma zona de instabilidade e não podemos usar isso como indicador. O país não deveria pensar em extrema pobreza e simempobreza. Revista da ESPM — E as classes A e B, como estão neste processo atual? Neri — O público A/B perdeu bastante. De modo até surpreendente, a classe C não foi muito afetada em termos de tamanho. Muita gente caiu da classe C para as classes D e E. Mas a classe C recebeu muita gente da classe A/B. O target A/B subiu de 10,6% da popula- ção brasileira em2009 para 13,88% em 2014. Em 2015, ele voltou para 12,5%, o nível de 2012. Essa foi a classe que mais retrocedeu. Agora, todos estão perdendo, mas a classe A/B relativa- mente menos, porque a desigualdade está aumentando. Ela talvez seja o maior exemplodessa reversãonopaís. Revista da ESPM — Emque sentido? Neri — A classe E era a que mais cres- cia em termos proporcionais. Mais do que a C. Mas teve uma queda forte de 2014 para 2015. De 2016 em diante, ainda não temos os resultados, mas, como a desigualdade tem aumentado, pode ser que ela esteja sendo um pou- co poupada. Tem perdido muito, mas talvezmenos doque as outras classes. Revista da ESPM — Quais as suas previsões em termos de emprego e renda? Neri — No curto prazo, há uma in- flexão favorável. Ainda estamos no vermelho, perdendo renda, mas quase retornando ao azul. A inflação em queda passou a ser aliada da renda do brasileiro.Odesempregocontinuaa jo- gar contra. Contratações com carteira de trabalho eramumsinal positivo em fevereiro deste ano. É cedo para afir- mar, mas há uma tendência de voltar ao azul no que diz respeito ao cresci- mento da renda das pessoas. No curto prazo, o aumento da desigualdade pre- judica não apenas osmais pobres, mas toda a economia. Talvez devêssemos ser mais altruístas em relação aos po- bres, pensar não só em justiça social, mas na economia. Ainda não apren- demos a ver como um movimento de redução da desigualdade consistente gera uma sinergia boa para a econo- mia. Agora, existe uma incerteza no médio prazo, que é 2018. É difícil dizer qualquer coisa. Pormais que a situação possa melhorar no próximo ano, será preciso aguardar para saber. A nossa incerteza não é para o longo prazo. É para o médio prazo, e é grande. O que o Brasil vai fazer? Não sabemos. Há um círculo virtuoso que começa a acontecer; a desigualdade é uma pedra no caminho. Se fosse “endereçada”, poderia não atrapalhar esse processo. Mas o maior problema está no médio prazo. Oque vai ser do Brasil em2019? Não tenhoamenor ideia. Infelizmente. shutterstock Hádoiscomponentesquedificultama retomadadocrescimento. Deumlado, a desigualdade. Deoutro, as incertezas futurasvindasdoconturbadocenáriopolítico

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