RESPM ABR_MAI_JUN 2017

abril/maio/junhode 2017| RevistadaESPM 61 foi praticamente universalizado e as taxas de analfa- betismo entre os mais jovens quase zeraram, segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2016 , do Minis- tério da Educação (MEC); e ampliaram-se benefícios sociais, subsídios para compra de moradias populares e transferências públicas para os mais pobres. Em segundo lugar, há de se destacar os avanços para o acesso ao ensino médio e ao ensino superior no país. Embora o sistema educacional brasileiro continue sendo desigual, avanços quantitativos ocorrerame ações afir- mativas vêminserindo no ensino superiormais pessoas pobres e negras — exatamente aquelas cujas barreiras são mais demarcadas na progressão educacional. Már- cia Lima e Ian Prates descrevem essas desigualdades raciais no Brasil em outro capítulo do livro Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cin- quenta anos , organizado por Marta Arretche. Em terceiro lugar, é essencial considerar que mais brasileiros estão municiados com smartphones e se conectaram à internet, incluindo pessoas commenor renda. Segundo a 11ª edição da pesquisa TIC Domi- cílios, divulgada no Portal Brasil, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2015 mais de 102 milhões de brasileiros (58% da população) acessavam a internet (sendo que 89% dos usuários utilizavam smartpho- nes). Destaque para o fato de que 95% dos entrevis- tados da classe A haviam utilizado a rede menos de três meses antes da pesquisa; na classe B essa pro- porção era de 82%; 57% para a C; e 28% para a D/E. A hiperconexão permitiu que os brasileiros tivessem acesso amúltiplos universos. Não por acaso, a partir de 2013 aumentaram também as manifestações públicas compautas políticas, assimcomo a discussão de temas que nunca figuraram com tanta força na pauta pública brasileira — como desigualdades sociais, machismo, racismo, homofobia etc. Desse modo, interpretamos que, apesar das flutua- ções de rendimento da população brasileira, os resulta- dos dos avanços de indicadores sociais, aliados amaior escolaridade e acessoà internet, fizeramcomque grande parte da população brasileira transmutasse seu capital econômico para outros tipos de capital (notadamente cultural e social). Utilizamos aqui a noção de capital a partir da conceituação proposta por Pierre Bourdieu, em A distinção: crítica social do julgamento (Edusp, 2008). Emsuas análises, o sociólogo francês refere-se a quatro tipos principais: econômico, que consiste emproprieda- des materiais, rendas, salários etc.; cultural, relativo a saberes adquiridos principalmente na forma de títulos escolares e práticas culturais; social, que consiste nas relações sociais de cada indivíduo e suas redes de conta- tos; e simbólico, referente à ideia de distinção, ou seja, à maneira pela qual os indivíduos são reconhecidos pelas formas legítimas de posse dos diferentes tipos de capi- tal. Aqui, a questão central é que o acúmulo de capital cultural (adquirido via educação formal ou não), aliado a mais capital social (sobretudo pela inserção de pes- soas emnovos espaços sociais e expansão de conexões de suas redes), levou os brasileiros a pensaremseu con- sumo a partir de outros patamares comportamentais, alémdo econômico. A seguir, você confere quais são as tendências com- portamentais mapeadas pela Box1824, transversais a diferentes classes sociais e impulsionadas por esses Fenômenosdeapropriaçãodascidadeseaemergênciade espaçospúblicoscompartilhadospor pessoasde todasas origenscriaramespaços físicosde intensas trocasculturais Pessoas que antes circulavamapenas pelasmargens da sociedade passaram a transitar pelos centros e tornaram-se influenciadoras de comportamento shutterstock

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