RESPM ABR_MAI_JUN 2017

entrevista | Sonia Bueno Revista da ESPM | abril/maio/junhode 2017 88 e embalagens mais econômicas, en- quanto as classes A e B podem consu- mir umprodutomais premium . Revista da ESPM — Essa semelhan- ça entre as classes é visível em outros segmentos além dos itens básicos de consumo? Sonia — Se você examinar outros atri- butos, como acesso à internet, está crescendo assustadoramente. Hoje a penetração já está em quase 70% da população. O mesmo ocorre com o acesso à telefonia celular: a diferença é que a parcela de maior renda usa o pós-pago e a baixa renda, o pré-pago. As diferenças sociais são importan- tes, mas não significam o não acesso às categorias, como era no passado. Outra coisa que diferencia muito é o cartão de crédito: a grande maioria de consumidores das classes A e B já possuía; hoje ele está acessível para as outras classes também. Nós vemos que a crise dificultoumuito, mas a po- pulação está mantendo o seu cartão, isso foi uma conquista. Revista da ESPM — Na cesta de consumo, haveria uma diferença mais nítida entre as classes? Sonia — As classes A e B têm um maior gasto. A quantidade consumi- da per capita é maior e os produtos têm mais valor agregado, mas são poucas as categorias que não estão presentes em todas as classes, emum universo de 120 segmentos que nós acompanhamos. O que muda mesmo é a frequência de compra. O consumi- dor commais renda compra o iogurte grego uma vez por mês, por exemplo. Já o público das classes C e D, só uma ou duas vezes por ano. Revista da ESPM — Que hábitos mudaram? A ascensão da classe média aumentou muito o consumo de refei- ções fora de casa, a venda de pacotes de turismo e viagens de avião, entre outros serviços. A crise reverteu essa tendência? Sonia — Nós temos um estudo que ranqueia o gasto das famílias. Em 2009 e 2010, ele era liderado por habitação, transporte, alimentação e lazer. Hoje, o lazer foi para a déci- ma posição, com aumento de gastos com saúde. Então, existe realmente um impacto nas prioridades: 1,5 milhão de pessoas afirmaram ter deixado de ir a restaurantes, por exemplo. Cabeleireiros também registraram uma queda importante na frequência, enquanto aumentou o uso de produtos de tratamento para cabelo dentro de casa. Uma diferenciação importante que po- demos expor aqui é a de que, nas classes A e B, 21% dos gastos estão em itens essenciais de alimentação, higiene e limpeza. Já nas classes D e E, esse número sobe para 37%, qua- se o dobro. A média nacional hoje está em 27%. Revista da ESPM — É possível medir o impacto do desemprego ou o risco da perda do emprego no comportamento do consumo do brasileiro? Sonia — Não conseguimos estabele- cer uma associação direta, mas ao examinar o poder aquisitivo defla- cionado do brasileiro, saindo de uma base 100 em 2006, ela chegou a 130 no início da década e recuou hoje para 116. Ou seja, houve uma queda nítida que impacta no perfil de consumo. Revista da ESPM — Dados do Global Monitor 2016 mostram que 82% dos brasileiros estão preocupados com as mudanças e os riscos associados, contra uma média global de 62%. O brasileiro está muito mais pessimista? Sonia — Esse estudo é de 2016 e, por- tanto, foi feito no ápice da situação institucional toda que tivemos aqui. Esse estudo aborda várias questões, como inovação e tecnologia, onde o Brasil está sempre melhor do que a média global. Então, o resultado retrata exatamente o momento que estamos vivendo, no qual existe uma situação de risco maior em função da economia e do quadro político. Revista da ESPM — Em relação à América Latina, houve mudança? Sonia — Na região, nós temos países que historicamente são mais pessi- mistas, como a Argentina. E o Brasil continua entre os mais otimistas, ao lado de países andinos e da Colôm- bia. No geral, isso vem se mantendo estável. O brasileiro diferenciamuito a relação do otimismo pessoal com o do país. Então, no campo pessoal, isso não mudou, mas o que caiu Nas classes A e B, 21%dos gastos estão em itens essenciais de alimentação, higiene e limpeza. Já nas classes D e E esse número sobe para 37%, quase o dobro

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