RESPM_JAN-FEV-MAR 2017

entrevista | Nizan Guanaes Revista da ESPM | janeiro/fevereiro/marçode 2017 88 mento difícil para falar sobre isso, os congressos são muito importantes. Hoje, 63% da população brasileira discordam da aprovação da PEC 241 (do teto para os gastos públicos), mas é preciso ter um lugar que pense no melhor interesse das nações. Isso aqui, nos Estados Unidos, na Europa. Senão a gente vai partir para as demo- cracias digitais, e isso não está certo. É uma ideia ruim. Agora, eu não sou o dono da verdade. Essas são as minhas opiniões. Eume sinto feliz aos 60 anos em caminhar contra o vento, como eu fazia aos 18 anos. Que bom que exis- tem o Uber e o Facebook, mas essas empresas são como a Standard Oil: elas alcançam um nível de poder e de concentração que precisa em algum momento ser regulamentado. Revista da ESPM —O senhor é umdos membros do Conselho de Desenvolvi- mento Econômico e Social da Presidên- cia da República, o Conselhão. Como tem sido essa experiência? Guanaes — Em primeiro lugar, eu fico feliz em ver a propaganda bra- sileira representada por mim e pelo Roberto Justus (presidente do gru- po YR), que pertencemos aos dois maiores grupos do mercado. Em segundo lugar, nós fomos chamados à responsabilidade para contribuir com o país. Isso não é um cheque em branco político e ideológico. O Brasil é um paciente na UTI e precisa de reformas. Nós estamos ali para con- tribuir, construindo uma ponte para que o país atravesse esse período e possa ir às urnas em 2018. O Brasil é uma Kombi atolada e o nosso papel ali é empurrar a Kombi para ajudá-la a sair do lamaçal. Nós decidimos, como conselho, focar nas pautas essenciais: a desburocratização e as reformas básicas. Estamos atuando como intensivistas de uma UTI. A prioridade desse governo é econo- mia, economia e economia. Só assim nós vamos reverter essa chaga que são 12 milhões de desempregados e mais quatro milhões que desistiram de procurar trabalho. O que está acontecendo como desemprego entre os jovens é uma brutalidade. O que eu e o Justus estamos fazendo é o que o Roberto Duailibi, o Geraldo Alonso e o Mauro Sales fizeram no passado, representando a publicidade em mo- mentos importantes para o país. Revista da ESPM — Em uma entre- vista após uma reunião do conselho, o senhor destacou a importância da comu- nicação do governo, considerando, por exemplo, que a maioria da população é contrária à PEC 241. O governo não está conseguindo passar a suamensagem? Guanaes — As pessoas não sabem o que é a PEC. A comunicação deveria ser uma obsessão do governo. A PEC é fundamental para o país e a sua aprovação já é um legado desse go- verno. Não é uma questão ideológica, mas de matemática. Toda vez que o governo afronta a matemática é um desastre. Nós estávamos gastando muito mais do que podíamos. Agora, o desafio do Temer é o mesmo de todas as grandes democracias: como aprovar medidas impopulares. Olha: eu já fui gordo. Um gordo com uma dieta diária de 8 mil calorias é o cara mais feliz do mundo. Só que ele vai morrer. Um gordo com uma dieta de 800 calorias está fazendo o melhor para a sua saúde, mas tem o pior hu- mor possível. Mãe jamais ganharia uma votação na vida, porque nenhu- ma criança gosta de tomar banho, acordar cedo e ir para a escola. Então, o grande desafio das democracias é como fazer as multidões entenderem medidas impopulares. Como expli- car a reforma da previdência? São as melhores regras? Não, mas é o que podemos pagar. O que está travando o crescimento da Europa são as leis trabalhistas que se tornaram uma coisa do passado. Revista da ESPM — Como o presiden- te Temer vê essa questão? Guanaes — O governo Temer não entende isso e vê a comunicação como propaganda, quando ela não é. Todo governo precisa de comunica- ção, e esse governo precisa mais do que todos. Eu tenho procurado con- tribuir o máximo, dentro do Con- selhão, para que o governo entenda isso. E não tem nada de ideológico no que estou falando. Nós precisa- mos que esse governo seja o mais bem-sucedido possível. Revista da ESPM — Falando sobre no- vos negócios, o que o senhor avalia como ummodelo a ser perseguido pelos jovens profissionais que estão entrando no mercado ou aqueles que estãomontando suas empresas agora? O horário nobre virou a madrugada, quando as pessoas assistem às séries. Nós vamos brigar com a Netflix? Nós temos é que nos adaptar a essas mudanças

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