RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 11 Arebeliãodosremediados Por Alexandre Teixeira Foto: Divulgação A o ouvir o conceito de “mundo pós-global”, Otaviano Canuto, diretor exe- cutivo do Banco Mundial para o Brasil e outros oito países, levanta uma sobrancelha, expressando ceticismo. A expressão é referência à ideia de que o planeta estaria vivendo um processo de desglobalização. O econo- mista sergipano de 61 anos não está confortável com esta premissa. Para ele, não há uma reversão da globalização, mas sim um ponto de inflexão no processo de integração comercial, financeira e imigratória iniciado na virada dos anos 1980 para os 1990 e acelerado nas duas décadas seguintes. Tal inflexão, em seu juízo, não levará à reversão da integração, mas, no máximo, à introdução de novas condicionantes. “A globalização foi fantástica para a maioria da população pobre do mundo”, pondera Canuto. Mais de umbilhão de pessoas saíramda miséria. O descon- forto, diz ele, concentra-se nas classes média-baixa e baixa das economias avança- das, que não se beneficiaram do processo. “É nessa faixa que começam a aparecer os movimentos de reação ao sistema.” Vários deles propõem um retorno inviável a um passado idealizado. “Não há como rebobinar e voltar à situação anterior”, diz ele. Canuto é economista, foi diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e traba- lhou como conselheiro sênior para os BRICs no próprio Banco Mundial, emWashin- gton. Durante a sua passagem pelo Brasil, emmeados de julho, ele sustentou publica- mente que a agenda reformista deve continuar com ou semMichel Temer à frente do Executivo e, em 2018, o Brasil deve evitar eleger um presidente populista para poder crescer — preocupação manifestada também ao final da entrevista a seguir, concedi- da no hotel onde se hospedou em São Paulo. “Sabe de onde vem a nossa crise? Faz mais de 30 anos que a produtividade neste país está tendo um crescimento anêmico”, afirma Canuto. “Temos um ambiente de negócios que é inimigo do investimento em aprendizado tecnológico. Ele envolve desperdícios de recursos humanos em atividades que não agregam valor.” Umdiretor de relações institucionais numa empresa ganha muito mais do que o diretor de pro- dução, exemplifica. “Precisamos de outra agenda de reformas que permitamelhorar a produtividade do brasileiro.”

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