RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 13 tem várias hipóteses para a provável presença de uma estagnação secular nas economias avançadas. São econo- mias de serviços, com conteúdo de ca- pital fixo, de equipamentos, cada vez menor. As inovações tecnológicas es- tão economizando trabalho e capital. As oportunidades de investimentos produtivos e ganhos por ampliação da produção estão pequenas. Parte do cai- xa largo das empresas se deve ao fato de que elas têmonde gastar. Não veem necessidade de duplicar instalações. Daí a importância de políticas fiscais proativas, que podem empurrar para o futuroesseencontrocomaestagnação. Revista da ESPM —Qual era o objetivo inicial do BancoMundial ao ser criado? Canuto — Ele foi criado para ajudar países devastados pela guerra a se reconstruírem. Os primeiros clientes do banco foramFrança e Japão. Depois da plena recuperação das economias europeia e japonesa, o banco perde essa função e volta-se para países em desenvolvimento. Nessa segunda fase, em que se coloca como missão atacar a pobreza, o banco cometeu erros. Em determinado momento, propug- nou um conjunto amplo de reformas estruturais que se tornou um pacote uniforme para situações diferentes. Certas reformas não fizeram sentido. Algumas vezes, não se prestou aten- ção na necessidade demanter funções do Estado. Mas o banco cumpriu seu papel. Mas começa a perder relevân- cia com a emergência das finanças globais plenas e o fluxo de dinheiro para os mercados emergentes. Agora, há projetos conflitantes para o banco, com pelo menos duas vertentes. Um grupo de países quer que o banco saia de vez de nações com renda média e renda média-alta. Que saia do Brasil e da China, não faça mais operações financeiras e foque apenas nos países de renda baixa, o que se faz por meio de empréstimos concessionais ou doações. Este é um projeto. O outro — que eu defendo — sugere que o banco seja um apoiador de intervenções es- pecíficas para enfrentar situações de risco que não são bem administradas pelo setor privado, de modo a tornar possível a ampliação de fluxos de in- vestimento, locais e estrangeiros, para os países em desenvolvimento. Mas, mesmo para isso, o banco é pequeno. E aí está uma consequência do processo de questionamento da globalização: a crise do multilateralismo. O principal campeão domultilateralismo, os Esta- dos Unidos, está contra o multilatera- lismono governoTrump. Revista da ESPM — Pouco antes da posse de Trump, o senhor disse que, se o novo presidente seguisse a agenda radi- cal que defendera na campanha, o Brasil teria de se proteger da piora no cenário externo. O que dá para dizer ao final dos primeiros seis meses de governo Trump? Canuto — O que eu disse na época é que havia dois cenários possíveis: “good Trump e bad Trump”. O lado suave do plano dele para a economia norte-americana em si — caso não se fizesse acompanhar por políticas comerciais restritivas e intervenções isoladas, como a que está querendo fa- zer como aço e como fez como açúcar — era até muito bom. Ele parcialmente copiou a agenda que o ex-presidente Barak Obama tentou implantar, mas não conseguiu aprovar no Congresso, e que o Fundo Monetário vinha suge- rindo aos EstadosUnidos. Revista da ESPM —Emque consistia a parte boa do plano? Canuto — Um grande plano de in- vestimentos em infraestrutura. O Obama tentou aprovar no Congresso um pacote de US$ 400 bilhões em investimentos em infraestrutura, que foi recusado. Vem o Trump e anuncia: “Vou propor um programa de US$ 1 trilhão!”. Ainda que houvesse dúvidas, porque a economia norte-americana já estava bem próxima do pleno em- shutterstock As inovações tecnológicas estão economizando tudo: do trabalho ao capital. E as oportunidades de investimento produtivo estão cada vezmenores

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