RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 15 Canuto — É fazer o dever de casa do- méstico. Um problema foi termos entrado numa trajetória fiscal poten- cialmente explosiva, caso a agenda de reformas estruturais não avance. Pre- cisamos de uma agenda de reformas que permita melhorar a produtividade do brasileiro. Sabe de onde vem a nos- sa crise? Faz mais de 30 anos que a produtividade neste país tem um cres- cimento anêmico, que ficou escondido na época do ciclo das commodities. Não adianta correr para fazer acordos comerciais sem lidar com isso. Temos de melhorar a educação e montar um arcabouço que seja crível, aberto e competitivo na área de infraestrutura. O setor público precisa criar projetos não paramaximizar oportunidades de corrupção, mas para gerar serviços de longoprazo. Revista da ESPM — É uma agenda extensa. Quais seriamas prioridades? Canuto —Precisamos de investimento em infraestrutura, que é uma fonte de crescimento imediato e de aumentar a produtividade — já que parte da pro- dutividade baixa são desperdícios por falta de infraestrutura. Precisamos revisitar nosso ambiente de negócios. Como está hoje, ele impõe um alto ônus produzir no Brasil, que só não é mais dramático porque a economia é protegida. A Volkswagen do Brasil é incapaz de concorrer comprodutos da Volks de fora, por conta dos custos de produção daqui. Temos de fazer uma reformano ambiente denegócios e um programa de abertura comercial. Um dos capítulos horrorosos do nosso am- biente de negócios é a dificuldade para importar qualquer coisa. Cabe a nós investir em áreas em que o Brasil tem condições de ser fronteiranomundo. Revista da ESPM — Por exemplo? Canuto — É o caso da Embraer, da Petrobras, da agricultura. Mas deve-se permitir ao resto da economia se abas- tecer de importações e redesenhar a sua produção local de uma maneira que tenha produtividade e competiti- vidade. Para isso, precisamos de aber- tura comercial. Comou semacordos. Revista da ESPM — Supondo que o movimento antiglobalização avance, oque oBrasil pode fazer para se proteger? Canuto — Talvez desfazer o conjunto de distorções que criamos nos últimos 30 anos, supostamente para tentar proteger opaís da globalização. Revista da ESPM — Mas os protecio- nistas daqui, quando olham o que está acontecendo lá fora, dizem: “Está vendo? Agora estamos mais bempreparados”. Canuto — Infelizmente, isso é verdade. Mas a aposta de vários de nossos vizi- nhos não tem sido esta. Tem sido na- vegar neste processode globalização. Revista da ESPM — Sua aposta não é no avanço da desglobalização, certo? Canuto — Não. A eleição do novo pre- sidente francês, Emmanuel Macron, cortou a correia transmissora dessas tendências retrógradas antiglobali- zação de direita. Ele está propondo, comsua nova forma de fazer política, uma forte reforma estrutural na França. É um modo de fazer política completamente diferente daquele que nós conhecemos, com um grau de integração por intermédio dos novos meios de comunicação que explica a grande rede que ele mon- tou. Não políticos, trabalhadores se integraram nessa rede e assim con- seguiram se eleger. Revista da ESPM — O senhor vê algu- ma chance de, em 2018, termos alguma coisa semelhante no Brasil? Canuto — Cruze os dedos. A última coisaquepodemos ter éavitóriadeum populista prometendo o retorno a um passado, que já era ruime frágil. Sóque nós não sabíamos. shutterstock Oprincipal campeão domultilateralismo, os EstadosUnidos, está contra o multilateralismono governo Trump

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx